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                                                               Molly Bloom's soliloquy MOLLY ZOOM [NÃO] MORA LONGE são flores os dentes da infiel molly bloom redonda forma tem o bolo tipo molly zoom aquela que, mesmo descabelada, dá a exata conotação às nuanças do de trás e do da frente, dá nó em pingo d'água essa filha das nuvens, assim é molly cum cantada e decantada bebida destilada em sórdidos becos dublinenses e belo horizontinos, becos de todo lugar, provada em lúgubres e álacres motes & motejos, pobre garota rica molly sweet molly sempre dizendo algo misterioso como "seu ar não é o meu", molly glue sendo mestra em monólogos e poligamia [diálogos fortuitos] vive bem com a sola dos seus sapatos e com as unhas rachadas, enfim, com a sopa rala dos dias, recolhe membros feito colheitadeira roendo trigo milho e cevada pelas ruas cheias de flores plásticas e de lama, assim os traços e rastros até a casa da
arte: FÁBIO SILVA - Belo Horizonte, MG, Brasil AUSTRAL Longe do sul, os timbres diferem, parecem passos numa trama sinistra, talvez não, é que a gente pode se enganar, às vezes, é certo haver coisas lindas longe da tampa austral, feiuras com sombras maiores do que uma noite de punhais. Longe do sul pareceram-lhe álacres as ondas do mar, não tanto as ondas humanas tropeçando em favores nunca cometidos, mergulhando num palco escorregadio, sim, viajar para longe do sul valeu-lhe saber de fato onde fica o norte, bem como o leste e o oeste no seu perceber austral. Texto e foto: DMC
Dona MARIA JOSÉ, minha mãe - hoje: 80 anos CARTA À MÃE (n. 80) Querida MÃE, o que eu vou dizer que saiba dizer com a profundidade, a largueza e a altitude dignas da senhora, que hoje, 13 de abril de 2012, completa 80 anos com tanta alegria e disposição ? Ora, eu mesmo, seu filho mais velho, embora não o mais sábio, melhor, o único desmiolado, mal posso crer, porque sei do rosário de sofrimentos indescritíveis pelos quais a senhora passou, mormente nos últimos 28 anos – com a perda de irmão e irmã seus, bem como de três rapazes seus, estes num espaço fantástico de um ano e dez meses, e também com a perda de sua filha de 51 anos, há muito poucos anos, falecida e descansando longe de casa, a qual lhe deu três moças lindíssimas, por dentro e por fora. Dona MARIA, cá estou, lembrando-me de você levantando-se toda madrugada, em Joaíma e depois em Santa Bárbara e depois em BH, sem fazer barulho nenhum, após ter cumprido, morta de cansaço, seus deveres de esposa (
    WISLAWA SZYMBORSKA (Polônia) - Prêmio Nobel 1996 BREVÍSSIMA CONSIDERAÇÃO SOBRE A POESIA DE WISLAWA SZYMBORSKA A lucidez requer ferocidade, e o contrário disso é, para mim, tão claro quanto neve limpa e clara de ovo, ou seja, algo palpável, claramente perceptível. É por isso que a poesia da W. Szymborska é uma das raríssimas pelas quais pego uma cadeira ou me assento numa das muitas pedras que há no mundo, ou me assento no sanitário, quando não numa pracinha qualquer, e lá ficamos eu e ela traçando o futuro da memória – se é que haverá tal futuro. Ah, lembro-me aqui do J. L. Borges, num pequeno trecho que utilizei já em textos meus, ao aludir sobre a lucidez cruel da insônia, ao que acrescento a insônia cruel que a lucidez dá a quem consegue chegar e ficar por lá. Com essa polonesa dá para conversar - entre goles de risos pel infinita imbecilidade humana. Darlan M Cunha ***** FOLHETO Sou o comprimido calmante. Actuo em casa, sou eficaz na r
AMORFOS Que não me perdoe a natureza, por entendê-la plena de tipos amorfos, de ter com ela, vez que outra, venturas de bile, arcaica lavoura sendo a que existe entre nós, quando se trata de ódio puro e simples, melhor, de admiração ressabiada; mas também é lícito dizer que nos temos em alta conta, madrugada afora a natureza me encontra entre disrítmicos graves, e amorfos, aos quais falta o mais elementar dos membros: a cabeça, sim, é a cabeça, irmão, capaz de salvar-te de ti mesmo, irmã rua, irmão beco. Foto e poema: DMC
TODOS OS ANIMAIS ESTÃO ÁVIDOS Zangados pela fome da fala, em busca de raízes próprias vivem as aves pernaltas e os pássaros ladrões de comida vivendo no poleiro alheio os bichos mais diversos, alaridos grassando de forma impiedosa, crianças a cinco dinheiros, mulheres a troco de ferramenta qualquer, assim o barco: de cais em cais, de nuvem em nuvem atraindo gafanhotos e outros sectários, zangados porque vazios os trevos, alegria nenhuma no mundo dos bichos ocos, clavícula quebrada, as pernas  dilaceradas da honra, e eles são cada vez mais, ja, herr kommandant, und es werden immer mehr, all the animals were angry,* a ira de deus sendo piada, tão mimosa, flor venenosa   é a revolução dos bichos não acontecer, até hoje a sexolatria não deu em nada, e não se espere daqui mapa novo para a grande marcha, zangados estão os chicotes, e assim só lhes resta lanharem-se com as pimentas da ira e os ácidos do desdém. Foto e texto: Darlan M Cunha
                                                  RELÓGIO QUE "ANDA" PARA TRÁS                                                   (Bar do Valtinho. Medina, MG, Brasil) Perguntas sem resposta estão nas ruas, nos cofres, nas gavetas recôndidas, onde até mesmo o tempo tem medo de ir, sim, perguntas há cheias de pó, de temores, seus donos e donas sabem que precisam protegerem-se dos biliosos, dos curiosos, porque há coisas que são só da gente, a ninguém mais pertence - esquecidos e esquecidas que tiveram de viver com alguém aquela e todas as experiências, sim, há quem, como este relógio aí acima, há quem ande só para trás. TEXTO e FOTO: Darlan M Cunha
Trabalhar com pesquisa de vírus, ou em virologia, é mesmo algo muito, muitíssimo, muitissíssimo perigoso, e, naturalmente, só mesmo um seletíssimo grupo pode com isso. Eu trabalho nisso, num laboratório de muito difícil detecção (desistam os inimigos), estando mesmo pensando sériamente em experimentar alguns dos meus 'protegidos', cujo alcance e poder de destruição é espantoso, muito além da imaginação. Estou estudando este caso, esta possibilidade real, com mão no queixo. Texto: DMC
SHARON OLDS (USA, 1942) Teoria dos tremores Quando dois estratos terrestres se esfregam um no outro como uma mãe e uma filha chama-se uma falha. Há falhas que deslizam suaves uma pela outra uma polegada por ano, tão-só de raspão como um homem que passa a mão pelo queixo, esse homem entre nós, e há falhas que embicam numa curva durante vinte anos. A crista dilata-se como a testa sarcástica de um pai e tudo estaca no mesmo sítio, o homem entre nós. Quando isso acontecer, haverá graves danos nas zonas industriais e estâncias de veraneio quando os fundos estratos finalmente desencalharem da terrível pressão do contacto. A terra estala e os inocentes submergem gentilmente nela como nadadores. Sharon Olds “Satanás Diz” // "Satan says" Tradução de Margarida Vale de Gato Antígona, Lisboa 2004
JÁ É MARÇO 1. Em março não se prometa nada que fevereiro não foi capaz de fazer ou desfazer, mesmo enlaçados por tão breve espaço estes dois meses, mesmo com respingos do carnaval caindo na semana santa, melhor é evitar uní-los ou desuní-los por comparações, melhor é entrar em março com a mente nas águas típicas dele, com os estímulos que ele necessitará para chegar a bom termo, entregando a abril os instrumentos de sua leveza ou do seu peso, e não deixando pelo chão as peças que não couberam no seu jogo de encaixes de peças, seu labirinto, seu xadrez com um problemático ou irrealizado xeque mate, sim, vamos, que março chama, acendeu já o ar quente do seu balão, vamos porque o palco há de ser armado, espera. 2. Neste mês em que ventos sírios ofuscam o horizonte, e o núcleo de fukushima busca o meu púbis, avançando sobre outras apreensões, que fotos de homens e mulheres desaparecidos (herdados dos meses anteriores) estão no interior de ônibus e trens do cot
cria fama e... THE OSCAR GOES TO… O artista da fome é um livreto, mas tenho um vizinho que é, ele também, como todos os seus pares, de certa forma, um artista da fome, que sempre está com uma perna quebrada, a outra está luxada, ou com os braços em má situação, ou com um corte no queixo, não fala nada o artista, mas isto é algo antigo nele, porque sempre foi só um fantoche o artista com suas pinceladas, partituras, esculturas, gosta de mostrar que está por dentro das recomendações explícitas e subreptícias de amos e amas: god save the king, god save the queen (more), save the eurotunnel, eurodolar (o país dos dez mil "li" vem aí, vem aí a lavoura de mandarins). Foi nos bailes da vida... Aqui perto de casa há uma grelha enorme no chão de cada pista da avenida, que não dão vazão à água e, principalmente, aos mil dejetos plásticos, sofás, pneus, portas de casas, tijolos, geladeiras e fogões, sanitários e baús. Tudo é lixo, gente. Voltemos ao artista:
                                                                                                                                       FOGUEIRA viu uma fogueira em cada porta de um lugar do qual não se lembra, madeiras e ossos estalando, porque delícia pouca é besteira, porque inferno pouco é bobagem, o fogo é a estalagem na qual aqueces a comida, vai contigo à montanha, recobre de cinzas tuas pegadas, sim, o viajante viu fogueiras em cada rua, o rosto e a bunda da dúvida, o bafo da carne rasgada e bem temperada, sete goles de sorrisos com limão e gengibre, crianças com varas de marmelo nas mãos, correndo atrás do próprio riso, correndo atrás dos pais, de avôs e avós, ó, a vida é um caracol, espiral que não se pode desprezar,   caro amigo, se nenhum de nós tem ninguém em quem confiar; então, confiemos em nós mesmos, pactuemos entre nós mesmos Poema: DMC Imagem // Image: (?)
FROM DIGITAL AGE TO STONE AGE (to wake up or not?) O meu amigo Opabília tem cinco olhos com os quais preserva-se de um mundo todo ele olhos, mais para malévolos (os do mundo) do que para outra intenção. Expressões como pedra sobre pedra, olho por dente, dente por olho e a educação pela pedrada ele segue-as à risca, segue o tema para jovens enamorados mais de si do que do seu entorno, pelo que está bem longe de mim reprovar-lhe tal atitude, que também eu me previno assim, por sempre escamoteado, espicaçado, mas sou carne nua e crua, e só mesmo um tempero adequado para a ele adequar-me eu mesmo, carne dura, fibra por fibra, carne de pescoço – como diz o povo, embebendo-se ele mesmo numa estopa cheia de combustível de imprevisível ascenção, de ignição destemperada, que o povo vive sua pedra, sua pedreira, sua educação pela pedrada na era digital. Foto e crônica: DMC
TURISTA EM VIAS DE ondas e rochas vivem seu tempo (clausura ou fobia, catre ou ambivalência: tudo é anseio), o tempo que lhes dá e tira o vigor (pensou nisso, debaixo da cascatinha, no Caraça), ambas sempre lutando contra ele até se perderem no redemoinho que faz a rocha ser areal, e a água evolar-se (mas essa é teimosa: volta) o tempo também luta contra ele mesmo sabendo que a rocha hoje granulada vai no vento a favor do esquecimento é também um amor numa esquina antiga (tinha olhos curtos, mas limpos)   esperando noutros possíveis e impossíveis ângulos Foto e poema: DMC
SÍNDROME DE FEVEREIRO os pés inquietos de fevereiro reviram-se na lama que os cobre, que é tempo é tempo de chuva, do que restou dela em dezembro e janeiro, a cólica feroz das nuvens nos pés de fevereiro, eis o assunto do dia nos jornais, mas outros assuntos logo serão a bola da vez, porque já é de novo fevereiro, e só algumas pessoas dão por exato conta disso: que os cabelos já não são os mesmos do fevereiro passado, mais calmos estando talvez os dedos das mãos, menos motivos talvez para sorrir tendo as criaturas do dia e da noite, insones e dorminhocos, todos tendo nos ombros os fevereiros que fizeram por merecer, a canção diz: "não viemos por teu pranto", então, resta ir aos vinte e nove dias deste mês (há dele de vinte e oito), e abrir-lhe o leque, porque fevereiro é a época dos pés soltarem de um jeito único a sua mania, sua ânsia anual por folia, que os pés, em fevereiro, são reis melódicos: adeus, bigodes da seriedade; adeus, sutiãs e outras barbari
A LAVRA: FOGO refutando com palavras (por que não com atos violentos?), lavras de fogo e água de beber (envenenada), se causam espécie nos mais e nos menos favorecidos, melhor é tirar proveito do silêncio, arguindo no proscênio das ruas a omissão ferrenha das leis, a ablução diária numa pia com água suja - que o poema sujo da água é a sede Foto e poema: Darlan M Cunha
O RATO DE BOTAS resisitir a este ofício meretrício é fava mal contada que se desconta da letra morta  da leviandade, letra de próprio punho  é a necessidade postada numa esquina onde uma antiga porta de joalheria dá acesso ao rubi do momento e talvez também de amanhã, e assim o rato de botas sobe os degraus de sua alegria mesclada com tristeza crônica lá fora, a cidade e suas armadilhas para ratos e gatos Foto e poema: Darlan M Cunha
ESCULTURA (Aeroporto de Confins // BH, MG, Brasil) DONA CHUVA Enfim, após temporada memorável, porque desastrosa, sem igual, Dona Chuva foi a outras paragens, desandar lágrimas noutros páramos, criar pátina noutros monumentos, noutros museus, no telhado de outras igrejas e hospitais, lojas e repartições públicas, sem falar no mofo e no descascado que deixou por aqui, nesta casa de onde vejo duas ruas do mundo – agora cheias de ouro matinal. Enfim, num dia em que estava especialmente absorto, sentado à beira do mundo, vendo e ouvindo o rio das velhas levar troncos e pensamentos, estava especialmente cheio de desânimo, mas recolhi uma lágrima da chuva com o teu semblante nela: sinal de sol à vista. Foto e texto: Darlan M Cunha
  Alberto Santos Dumont (Aeroporto de Confins //BH - MG, Brasil)   AÉREO vive em seu labirinto o inventor, metido em seus parafusos, avesso ao barulho do mundo, carrega nos ombros uma pergunta ainda não respondida, sempre alerta, mesmo quando dorme, mesmo sob insônia, o inventor sente asas nas mãos, trabalha e retrabalha nelas, até que outros possam também ter asas nas mãos e nos pés Foto e poema: Darlan M Cunha
Igreja de Santana, Rio Vermelho. SALVADOR, BAHIA, BRASIL. BAHIA COM Fazia muito tempo que eu não ia à Bahia, muito tempo mesmo. Aceitei um convite, rezei ave maria, e criei coragem para entrar no avião. Passei uns dias lá. Devo dizer que a água sempre me fascinou de maneira única, sempre tive a percepção do que ela representa. E assim é que tenho fascínio e medo, ao mesmo tempo, dos rios e dos mares, é verdade, eles me atraem na mesma medida em que que me afugentam; e por mais que eu saiba da psiquê, ainda não consegui, digamos assim, fugir desta ambiguidade, deste temor nato, deste amor pela água. Sou de ferro, das montanhas. Para baianos e baianas, e também para os "estrangeiros" nacionais e internacionais que lá moram, a capital Salvador é Bahia. Parodiando a canção do Caimmy (morador de Pequeri, MG, nos seus últimos tempos, com a Dona Estela), digo que já fui à Bahia, e digo também que trouxe de lá novo encantamento, fui muito bem recebido numa casa mara