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Mostrando postagens de agosto, 2011
PULSÃO SOB METÁFORAS AS CADEIRAS DOS CAMPANA Imagino mendigos e idosos refestelando-se em cadeiras desenhadas pelos irmãos Campana (SP), ouvindo estalarem as sementes e os grãos da estação, sejam eles algodão, trigo, milho, café, mostarda ou girassol, enfim, a partir de uma boa cadeira pode-se ver mais enganoso o mundo, sua complexidade passível de algum entendimento. Do you remember your old chair, Matusalem? CERTOS NOMES Yasmim e Zana são nomes de timbre agradável de se ouvir, embora eu também goste de Zefa, mas não com a mesma intensidade do nome Zeferina, do qual ele é contração. Há que se considerar os obstáculos e até dissabores que os nomes, por incrível que pareça, podem acarretar aos donos e donas, sim, por exemplo: é notória a quantidade de nomes esdrúxulos que se dá a muitas pessoas, e, embora isso esteja escasseando, o fato é que nomes criados pela junção dos nomes materno e paterno são comuns, no que muitas vezes resulta em reais aberrações gramat
EM 1980, ESTIVE NO PERU... E NÃO HÁ COMO ESQUECER. NEM NOITE, NEM DIA * Nem noite, nem dia o absurdo não avisa hora para requerer moedas aos filhos do sol; o absurdo é música sem o aparato da clave de sol, o alcance do lá e as simbioses que a dor emite através de um nó maior (dó), que o absurdo ejeta do assento as notas em que esteja assente uma diagramação bem formatada de atitudes sociais, dentro delas estás tu, todos nós – todos os ambos, trios, quintetos e octetos, todo o ror (the horror, the horror). Sempre noite, sempre dia ovos imensos de pássaros, aves e répteis estão nas ilhas onde marinheiros de toda cepa se estarrecem e se maravilham com eles – os ovos com o seu incerto futuro, que o futuro já nos parece dente bambo. Nunca a noite seja todo o dia, vice e versa, nada de amar o próximo, melhor que se o conheça em sua noite veloz, com a sua síndrome de abstinência maior a qual, talvez, seja a do amor. Texto: Darlan M Cunha
BAR CHOVE LÁ FORA (aqui dentro só pinga) Num dia sem nome e sem data, entrei aí, igual a um peregrino sem aviso de que existisse tal local de peregrinação, e por lá mesmo fiquei eu, filho do cansaço, da fome e da sede, nem digo da solidão amorosa, que isso é doença antiga; e tão afoito cheguei lá, que nem li o título exuberante avisando que tipo de peregrinação se faz naquele inigualável lugar no qual, se não todas, porque é difícil, muitas mágoas e águas salobres ficarão lá mesmo, sobre o balcão ou na mesa que porventura escolhas para nela passares o tempo necessário para que em ordem a tua teimosa desordem interior fique. Foi isso mesmo o que se deu com este antigo aprendiz de sacristão, hoje, o diabo em pessoa, vil autor de O Dicionário do Diabo: Temas para Enamorados . Uma autêntica música de viola abria as janelas do dia para a freguesia, e lá mesmo conversei com um casal alemão, que ia de cidade em cidade, sem pressa, até por alguns estados, e gostaram imenso de ta
FERNANDO BOTERO Pois o mundo é roda viva, e enquanto fatos apenas ameaçam serem fatos, uma moça deita-se com um livro, e aborda com ele uma dúvida, uma quase certeza, uma certeza, porque a moça, de dentro e do alto da sua monumental solidão, quer mais do que apenas pentear cabelos, muito mais do que somente beliscar o pão que sobre a mesa sorri para ela, quer mais do que perceber que o vizinho deu um tiro pela culatra, que os documentos não ficaram prontos, que a correspondência está atrasada, ora, a moça não quer, de jeito nenhum, ficar nua impunemente. É isso: o natural parece estar cada vez mais distante, e assim ela revira os poros e os olhos do livro, à procura dos próprios olhos, já quase tão descrente e demente quanto o próprio mundo lá fora, que o seu mundo começa nalgum lugar ainda indefinido, ainda sem encontro marcado com o plantador. Texto: Darlan M Cunha Arte: Fernando Botero
WENDY GUERRA (escritora e jornalista cubana, 1970) Meus pais não fizeram a guerra para a vitória porque eram muito jovens, mas tampouco chegaram a tempo para as liberdades desse sonho ideal. Frustrados por não terem feito a Revolução, eles a sustentavam. Carregavam a sociedade como quem suporta uma viga sobre o corpo; todavia, quase sempre felizes por fazerem parte, por serem uma das vozes do grande coro, eles também resistiram. Isolaram-se bem no centro dessa geração capturada, sem encontrar saída. Mas já chega, caros ouvintes, agora vamos ouvir um pouco de música enquanto fazemos uma pausa antes de tudo que hoje eu quero confessar. Vamos ouvir Carlos Varela, interpretando sua canção “Foto de família”. [...] Detrás de toda la nostalgia, de la mentira y la traición, detrás de toda la distancia, detrás de la separación. Detrás de todos los gobiernos, de las fronteras y la religión hay una foto de familia, hay una foto de los dos." Fot o: blog da Heloísa
HOSPITAL & FOGO Sabe-se que o fogo é antigo, língua da antiguidade é o fogo, mas há quem diga que ele é andarilho, maluco, libidinoso, mero assecla de satã, e outros epítetos, apelidos e adjetivos ou títulos honoríficos, mas o certo é que ele é o sinônimo mais exato de incerteza, depois do humor dos homens. O fogo difere de nós por ele não ter nenhuma patologia, não precisa de medicina nenhuma, sendo, por sua natureza ímpar, o depurador de tudo. Foto e texto: Darlan M Cunha