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Mostrando postagens de 2013
Tenho um amigo e vizinho de nome Anatanael, cuja insônia não o deixa em paz, sendo ainda mais teimosa do que a de outros, tanto assim que todos os dias por volta das duas da manhã ele vai chamar o padeiro Mocréia, sim, acredite se puder, ele vai chamar o padeiro da pequena cidade, e os dois vão caminhando e jogando conversa fora, através dos poucos quarteirões até a padaria. Ele faz isso todos os dias, menos naqueles em que a ressaca passa dos limites, ou nos quais ele vai até ali perto, ou seja, vai até Belo Horizonte, e fica por lá um dia, mas não dois, na cidade de cujos moradores ele diz “pobres coitados, ardem de febre pela pressa." Texto: Darlan M Cunha Foto: Argentinian Burkation : http://argentinianburkation.tumblr.com/image/66483202715
  O BUDA SENTADO O buda sentado não carecia de jogos de azar, mas revirava a memória rumo à rota da seda, bebendo algo indecifrável, o iluminado olhava de soslaio a quem ousasse o que não ousava: cometer desatinos, matando mulheres e filhas (mulheres valiam pouco já àquela época), não, ele não saía de si a não ser para comer maçãs e praticar a lavoura arcaica de beber um copo de cólera antes de libidinagens com vacas e ovelhas, saltando cercas esse pai de profetas e de outros menos virulentos e menos votados,  sabendo que a sinistra e a destra costumam estranhar-se, pelo que as imergia  no lodo, sempre atento ao silêncio das possíveis presas, sim, era notório que o buda sentado já não se bastava a si mesmo, e as más e as boas línguas atestando que a sua fisionomia denotava anseios bem visíveis em cada folha sobre a qual estendia a mão com a qual proferia novas e antigas admoestações ao vício, esquecido do próprio vício de ent
Maria Sylvia Cordeiro. Menina lendo. Óleo sobre tela: 80 x 100           Um vizinho meu, escritor bissexto que, na opinião de alguns, é apenas outro que desistiu do dinamismo edificante, reside do lado sul da ponte da ponte, de onde inalamos o primeiro espanto do dia. Ele me disse que o fato de ter escrito sobre um assunto inusitado - romance de órfão -, segundo ele, o faz manter-se mais a postos devido a que o livro trata da história de um natimorto, do qual naturalmente ele sabe tanto quanto o resto da comunidade, ou seja: não sabe nada; mas mesmo assim foi capaz de inventar dados sobre este alguém, ele diz, sempre satírico quando o assunto é sociedade, até porque não há como fugir do sol, segundo sua cartilha ou evangelho. Texto: Darlan M Cunha
Carlos Drummond de Andrade (farmacêutico) e Pedro Nava (médico) Do que se tem, ao que se almeja Não te metas assim contra a força de nenhum santo, não te desregres   pelas entranhas disso e daquilo,  mesmo que sobre ti as regras do jogo ponham nome ou sintoma não previsto. Eis que a simpatia para o santo esfrega na cara dele perdas e danos, ida sem volta pela estrada - surda às batidas de novo querer -, cabendo ali ainda e sempre  o nó dos soluços, o pó das soluções. Foto e poema: Darlan M Cunha
SOM ANDINO          O maestro disse para não subestimar o poder da música, que não há mesmo como fugir de seu enleio, embora haja quem a ela seja indiferente, sim, há muitos doentes graves e até irreversíveis em todo o mundo. Nem mesmo no meio do inferno constante de oitenta decibéis, do calor natural, e do das máquinas, nem mesmo sob o fluxo da mãe da sociedade moderna, que é a pressa, escapa-se de parar um pouco para ouvir alguém numa das mil esquinas do inferno, e talvez com isso se sentir ainda vivo, ainda não de todo na lama, alguém prestável, e ainda não imprestável. Foto e texto: Darlan M Cunha