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Mostrando postagens com o rótulo literatura
elmos Quando se tem mais um dia, deve-se empedrar ou liberar a entrada à opção escolhida, testando a casa contra rajadas de medo e ódio sem dar trégua à ditadura do Não, anular o convívio com a incerteza, sem panos quentes, sem sonhar em apreender nada à distância, porque o Homem é isto que se tem ou que se vê: gastos inúteis de energia, o abraço difícil e o beijo insosso a razão pelo ralo levando consigo o dia. ***** DARLAN M CUNHA  
O mesmo de ontem, mas diferente. *****   1.      O que há de desnaturado no verbo somar, ainda que ao somar ele carregue consigo o verbo subtrair ? Ora, isto é natural, sempre foi, é e será. Alguém sempre perde algo no jogo: cesto, tijolo, bicicleta, a casa). Ó, quanto há de sombrio em certos sorrisos e certos apertos de mão ? Isto só se sabe depois que o rastilho de pólvora chega ao fim. 2.       Dominus vobiscum. Um dia - já era madrugada - eu e o amigo e vizinho voltávamos da balada, quando de repente Deus saltou à nossa frente e, sem sequer me notar, pregou-nos o óbvio, qual seja, um tenebroso, melancólico e enjoativo sermão, pelo que nos fizemos de desentendidos, deixando-o estático no passeio público. O sermão durou uma eternidade. Nem sei onde ele dormiu - talvez no hotel central ou na pensão da Dona Cacilda, os únicos lugares para isto nesta aldeia. 3.       Na sexta-feira santa do ano passado, eu e o meu amigo e vizinho estávamos em casa, beben
***      Certa vez, quando o amor e o ódio já tinham entrado na poesia e na música, até porque ambos - amor e ódio - nasceram com o Homem, sendo que muita coisa estava e ainda está por ser feita, eu bebia uma cerveja e mastigava uma linguicinha, sossegado, quando me voltou a ideia que havia muito tempo estava comigo, um trabalho que eu estava devendo: escrever algo sobre o Clube da Esquina, um pequeno apanhado sobre algumas canções. Eu estava no Bar da Lolosa, em Rio Acima, MG, um barzinho de bambu, humilde e bom de se estar, e a criançada zanzando pra lá e pra cá, à beira do campinho de futebol, e uma garotinha disse aos amiguinhos e amiguinhas que depois ela ia "lá no Cube (Cube), com os pais". Foi a conta. Minha cabeça estalou, e ali mesmo escrevi oito textos, e voltei depressa para BH. Em uma semana o livro estava pronto. Ficara anos dentro de mim, até que, de repente, explodiu. *** Foto e texto: Darlan M Cunha
vício de falar, suplício de ouvir * Ponto de água Dormir tornou-se viável depois da casa pronta pétalas nos armários escova nos ombros, o pão. M as q u al memória escapa de que um dia lhe revolvam a sanha feroz de ontem pela partilha ou posse do não ? Desejo se ja viável esculpir e m alto relevo na pedra o custo do pranto , e nele aquilo de qu e se perde tanto. ***  imagem: WEB poema: Darlan M Cunha
                                                                          Alice Shintani - quimera 2007 Quando o primeiro homem sem cabeça apareceu, não houve quem pudesse crer em mais nada, e durante muito tempo as coisas ficaram tão confusas na aldeia, que nem mesmo as crianças - em geral sábias - souberam como utilizar o tempo e o espaço, ou otimizá-los, ou compartilhá-los, segundo a linguagem do momento . Ora, homem sem cabeça é algo tão antigo quanto a água, de tal sorte que muito antes da invenção de deus e do diabo, pelos espertos das torás e suratas da vida, e afins, o famigerado homem sem cabeça já vagava sem maiores percalços pela amplidão do mundo - falésias, furnas, mesetas, istmos, ilhas e pauís ou pântanos. Sim, ele já se estrepava nos cactos, trocava rumos e urros com a caça e a pesca, até que chegou o tempo a partir do qual, premido por instâncias que nem a neurologia, a genética, a antropologia, a sociologia, a arqueologia e muito menos a psicanálise
O escritor anônimo - Budapeste, Hungria MÁDIDO Os parques de diversões e as praças estão cheios não só de desocupados e de vítimas da síndrome do pânico e de várias outras síndromes, bem como de pais divorciados, luzes apagadas, problemáticos, mães e pais distanciados uns dos outros levam suas crianças ao parque, brigando na justiça, seus gritos não são bem ouvidos pela vizinhança em geral, uma que outra mão lhes deseja bom o dia, enquanto as crianças estão aqui e ali, esperando com quem ficar, a quem pertencerão no próximo fim-de-semana, sob que teto serão enfiadas, mordendo o capim da inocência, os fios primeiros de sua teia, comendo o veneno de um bolo preparado a dois. Assim é como se prepara o incerto futuro da sociedade. Percebendo que corre perigo, mesmo com tantas vertentes, tantos caminhos, o futuro não sabe que drogas injetar no cotidiano, de quanta vigília a mais necessitará para torná-lo dependente e irradiador irreversível, que idílios traficar para alici
NOVEMBRO O mês abriu suas portas e janelas, com pé cuidadoso, mãos sutis e olhar inquiridor, novembro avisou que veio para ficar, se possível, mais de trinta dias, pois quer ser lembrado lá na frente, quando seu pó já estiver bem assente, sedimentadas todas as camadas de que for capaz. Ecos de si mesmo é o que todo mês quer que haja no decorrer da minha e da tua vida, Foto e poema: Darlan M Cunha