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Mostrando postagens de 2010
O AR EM SEU ESTADO NATURAL Aqui está o meu mais novo livro – um misto de pequenas crônicas, vou assim chamá-las, entremeadas com poemas. As pessoas já familiarizadas, ou não, com as emoções do Clube da Esquina, com suas canções, as entrevistas, as fotos, os casos engraçados, terão aqui um pouco de petiscos para saborear, petiscos com os quais assentarem-se à mesa, assim espero. Nada de entrevistas, de fotos. Escrevi o livro com a leveza necessária, leveza de quem percebe que a amizade é gênero de primeira necessidade, devendo estar na mesa de todos, algo de cesta básica, e este sentimento está presente em toda a obra do referido clube, de modo explícito ou subreptício, ou seja, é como está no livro: o que está sendo apreciado no livro é o  "conceito de amizade", e não própriamente a repetição da palavra, do termo, do substantivo amizade. O conceito é o que vale, e é disso que este modesto livro trata, sem pretender nem mesmo de longe esgotar o assunto. Amigo é coisa pra
ESCREVER LIVRO NÃO BASTA Vai, Joana, mete ação nestes degraus por onde suba, mais que o calor de uma costura entre vândalos, suba o desejo  de morte, vai e explica para a morte, Ana, coisas da vida, bota ação  no mundo, ação de formigas no retângulo sobre o qual mulheres e homens perdem a trilha da Razão como se camaleoa e camaleão de nova estirpe fossem ambos. Bota frege nessa vida, Mariana, desanca o dia e martela a noite, beija a boca do palhaço, Eliana, entra na espiral do meu espanto. Foto e texto: Darlan M Cunha
MANCHA NA PAREDE, RISCOS NA VIDA O coração é lar vazio, bar em cujo balcão debruça-se uma só pessoa com um eco de solidão perpassando a tarde, ao longe, o mar (vive longe o mar), mais ecos misturam-se às pedras e espinhos, às vezes, ir é mesmo o melhor remédio, por caminhos com ou sem escadas, com ou sem repto maior, o coração pede passagem entre os enfeitados, vestir os nus é preciso, mas a praça tem algo a dizer: logo será noite outra vez, o bar vai fechar, e a igreja contará seus créditos de almas perdidas, pois é, pra quê almas fendidas ? (saiu do nada, da dor fingida / caiu na estrada, subiu na vida), perdidos e achados, secos & molhados (pensem nas mulheres mudas, teletrágicas), mas sinal fechado não é nome certo para um sentimento que está vago. Arte e foto: Darlan M Cunha
FRUTAL Presa a si, e oposta às vias óbvias cujos becos sem saída são marcas registradas das pessoas, a criatura olha a manga e a romã displicentemente penduradas nos olhos da manhã. Texto e foto : DARLAN M CUNHA
DEZEMBRO Já é dezembro, finalmente, a curva final, com os gonzos de novembro (e dos outros dez) ainda balançando-se nos nervos, a mente sob o furor da estética social, correr é preciso rumo ao acervo geral, que o tempo não pára no porto, não espera que as frutas sejam embarcadas (onde o primeiro café de dezembro ? o primeiro abraço: em quem ?), tudo à vista (ou em práticas prestações), agora na reta final. Foto e poema: Darlan M Cunha
AS PORTAS (34) O simbolismo da porta nos sonhos se dá de muitas formas, mas a boca de um forno não é necessáriamente o canal materno; sonhar com a porta de uma igreja não será estar no inferno. As portas e as pontes: alguém canta ou emudece diante e debaixo delas, que desabam se alterado um ângulo, se alargado nelas o temor por quem as usará. Texto e foto: Darlan M Cunha
A DERME E O QUE CORRE VENAL Você já foi à Bahia ? Não vá, assim de qualquer jeito, não vá, pois bem poucos conhecem o que há por lá – mesmo os nativos. Recomendo que conheças o de dentro, e não o de fora; mas poucos e poucas podem mostrar-te o de dentro. Balelas aos montes, pascoais e menelaus,  maritacas e papagalhos aos montes. Não vá ao exterior da Bahia; vá ao fundo, e amarra nos teus cambitos os caminhos onde à cegueira seja proibido ir. Nada de pecha de turista. És de casa, mesmo sem sê-lo. Faz valer a tua fala e a tua intuição. Vá ao interior do que tenha a Bahia, nada de vatapás e carurus cheios de superficialidades, vá lá dentro do acarajé, no íntimo da peixada; entra fundo no golpe de capoeira de nome “aú”, e não te deixes enganar de jeito nenhum por malabarismos toscos para turistas; entra na África, embora para isto não seja necessário ir à baiana terra; assim, estuda o que em ti late, berra, geme, relincha e faz muxoxos; estuda bem o que em ti escoice
SEXTA BÁSICA Nesta cesta básica tem algo de você e de todas e todos os outros, pois nesta sexta de alusão à vida não podem faltar os nutrientes básicos da flora e da fauna permeando o dia, enchendo os rios, fluindo e secando lágrimas, seja como for, esta sexta básica é feita dos caminhos da quinta e da espera pelas pepitas do sábado. Texto e foto: Darlan M Cunha
NATUREZA DESNATURADA Em marcha, o soldado urina sobre a planíci e. Sabe próximo o fim (o da planície, talvez, também o seu). ***** Texto e foto: Darlan M Cunha
SOBRE RODAS (pero no con la culpa bien adentro) Sobre rodas chega o dia, deita-se   sob rodas a noite, bramindo as jazidas permanecem no máximo fervor, sob o olhar atento da gula dos homens sobre rodas e ordens mais ordens, renitências na forja, enquanto Yisela Sosa canta memórias suas que são da cidade onde ela compra pão, bebe chimarrão y hace y canta y toca milongas uruguaias, em Paysandú ela nasceu en la pampa, canta: por isso é divertido / às escondidas brincar. Pensa levezas que a vida põe ao nosso dispor, chama pássaros ao palco (pero no con la culpa bien adentro). Foto e texto: Darlan M Cunha Yisela Sosa e mais Yisela Sosa
VIDENTE NO AREAL Traçando um risco e depois outro e mais outro no areal que cercava a aldeia e o coração, lenta e enigmática, dispersando cinzas que em sua tez se formara, olhando o algodão escuro e pesado no céu, disse, entre silvos, que se tornaria em algo que não era de si, por si, ser. À espera ainda está.  Foto & texto: Darlan M Cunha
                                                                                                                                                                        BAR DU BETO Embora isto pouco aconteça, deve-se olhar com calma para as coisas e as gentes, mas isso só o fazem as raras pessoas que não se deixam escravizar pela essência da pressa, que é  mãe, pai, amante e o diabo a quatro de uma showciedade na qual todos são especialistas. Quando você encontra um lugar agradável, mas agradável não a você somente, mas agradável ao que o sossego, a razão mostra, mal se pode crer em tal ventura Em Belo Horizonte, este é um deles: o Bar du Beto, na Cidade Nova, ao lado do Parque. Foto e texto: Darlan M Cunha
DOCUMENTÁRIO O Sr. White – nome de colonizador e pele de nativo tem ele – nasceu e mora na boca das cataratas Vitória, no rio Zambeze. Tem pequena lavoura, não raro arrasada por secas devastadoras ou por semanas de chuva. Diz ele, num documentário, ter sete filhas, oito filhos e três esposas. Pois bem. Outras felicidades espero que o Sr. White conheça, de diferentes modos da sua. Ele, que sabe onde o Zambeze esconde seus peixes, tem um amigo na aldeia, de nome Edwin, artesão que faz “makoros” - grandes e esguias armadilhas para pegar peixes no turbulento e enorme rio. Josephat é ótimo pescador. Peixes secando. Aves comendo sal nos barrancos. A névoa engole o rio, mas mais tarde o sol queimará o algodão dependurado no céu. Arco íris lunares são comuns, como são comuns as risadas dos bichos que ninguém vê ao certo. Todos têm medo mortal dos hipopótamos. O Sr. White, cujo olho direito é coberto de névoa, ou seja, ele tem a sua própria catarata, contempla o
CERTOS DIAS & OS OUTROS DIAS Há dias que ficam tão dentro da gente que não há como esquecê-los, sendo que pode até mesmo acontecer de se tornarem faca de dois gumes, pelo fato de chegarem ao ponto de nos incomodar e prejudicar porque, a partir deles, todos os outros devem ser confrontados, de uma forma ou de outra. Esses tipos de dias, menos comuns, senão raros, falam alto, falam linguagem de solidão, por paradoxal que possa parecer, de solidão, não obstante evocarem só coisas boas como um passeio sem igual, uma resolução pessoal definitiva, enfim, algo verdadeiramente extra, cabal (pra mim, basta um dia, um meio dia).  Os Trabalhos e Os Dias é a famosa obra do grego Hesíodo (cerca de 700 a.C), no qual ele narra suas pendências com o único irmão, Perses, sobre o pequeno terreno que o pobre pai lhes deixara de herança. Sim, todos temos os nossos trabalhos, os dias azuis ou cinzentos. Assim é que nada mais desejável do que guardar sob sete chaves um passeio memorável,