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Mostrando postagens de fevereiro, 2007
Assim somos nós, os malvados: corroemos pela base a base que nos corroeu, desde os primeiros tempos, desde os primeiros acordes dissonantes. Ao quarto dia, os malvados tornaram a aparecer. Vinham chamar ao pagamento do imposto de serviço as mulheres da segunda camarata, mas detiveram-se um momento à porta da primeira a perguntar se as mulheres daqui já estavam restabelecidas dos assaltos eróticos da outra noite, Uma noite bem passada, sim senhores, exclamou um deles lambendo os beiços, e outro confirmou, Estas sete valeram por quatorze, é certo que uma não era grande coisa, mas no meio daquela confusão quase não se notava, têm sorte estes gajos, se são homens o bastante para elas, Melhor que não sejam, assim elas levarão mais vontade. Do fundo da camarata, a mulher do médico disse, Já não somos sete, Fugiu alguma, perguntou a rir um dos grupo, Não fugiu, morreu, Ó diabo, então vocês terão de trabalhar mais na próxima vez, Não se perdeu muito, não era grande coisa, disse a mulher do méd
Espera em si que o ar da manhã se faça, o cão abra o sorriso, a mão cubra outra mão, e a areia cubra tudo. O LIVRO DE AREIA Abri-o ao acaso. Os caracteres me eram estranhos. As páginas, que me pareceram gastas e de pobre tipografia, estavam impressas em duas colunas, como uma bíblia. O texto era apertado e estava ordenado em versículos. No ângulo superior das páginas havia cifras arábicas. Chamou-me a atenção que a página par levasse o número (digamos) 40514 e a ímpar, a seguinte, 999. Virei-a; o dorso estava numerado com outra cifra. Trazia uma pequena ilustração, como é de uso nos dicionários: uma âncora desenhada à pena, como pela desajeitada mão de um menino. [...] Sempre em voz baixa o vendedor de bíblias me disse: - Não pode ser, mas é. O número de páginas deste livro é exatamente infinito. Nenhuma é a primeira; nenhuma, a última. Não sei por que estão enumeradas desse modo arbitrário. Talvez para dar a entender que os termos de uma série infinita admitem qualquer número. [...] J
DE SE IR EMBORA, OU DE SE ACHAR MELHOR ONDE SE ESTÁ, HÁ MUITAS CANTIGAS, MIL TONS , ARES & ÁGUAS, MAS QUE HAJA ALGO DE TI RECADO BEM TEMPERADO Duas amigas, não própriamente decididas a dar um novo rumo em suas vidas, mas, sim, a fazer valer um secreto e antigo desejo (há-os às pencas em cada um de nós), qual seja : o de serem cantoras, sim, cantantes, inundadas de dós e mis, tons e semitons, bemóis agudos e sustenidos maiores, ambas assim meio desassossegadas pela oportunidade que nunca lhes vinha, resolveram por conta e risco, dor e alegria próprias, dar vazão à vontade que logo se tornou um ponto de honra para elas mostrarem sua volição, o que significa, em psicologia, vontade própria para atuar. Fiadas nisso, reuniram um repertório que não as deixava dormir completamente, e se trancaram até que a fornada de seus anseios ficasse pronta para o usufruto geral, dando a todos a oportunidade de conhecer outra capacidade delas: a de cantar, sim, o simples e complexo ato de bem cantar
Da Existência dos Ritos na Criação Artísitica O conhecimento e a detalhada formulação da relatividade de Deus em face do homem e de sua alma constitui, quanto a mim, um dos mais importantes passos no caminho de uma percepção psicológica do problema religioso e, com isso, de uma possibilidade de emancipação da função religiosa das incômodas limitações que lhe são impostas pela crítica intelectual, por sua vez, também com direito a existência própria. CARL GUSTAV YUNG. Tipos Psicológicos, O problema dos tipos na criação poética. ******* Poema de Darlan Pense que não haverá equívoco, ventos, passado e águas não meterão medo, que o tempo dos sustos passou, nenhuma notícia precisará de ajuda para subir os degraus e entrar, ao invés de ficar lá fora criando coragem para dar-te com a boca na tristeza, diga ao sonho que seja ancho, pelo menos parcela maior dos pesadelos. foto: Darlan
Visita-me com toda a sua família o Amor, pedindo que eu lhe dedique algo mais do que uma canção, um talo de fome ou uma aguardente de cujo intento não possa se salvar Ninguém. Vê como é autodidata, como se acha relevante o Amor, este mísero sentimento de perdas & danos. (DMC) Rtusamhara (trecho), de KALIDASA (Índia, séc. ?) E com o seu afã constante, Kama, sempre amoroso, tenta o belo sexo. Agora, as mulheres de ancas redondas como cartolas, reluzem seus bustos adornados com colares de sândalo; suas cabeleiras, banhadas com aromáticas essências, seus pés arroxeados pela rica laca, com argolas de metal que imitam o grasnar dos gansos selvagens. ******* Decameron (trecho da 3ª jornada, 1ª Historieta), de BOCCACIO (Itália, 1313-75) No entanto, aconteceu que certo dia uma de suas companheiras as viu, desde sua janela, rodear o jardineiro e seguí-lo até a sua cabana, e em seguida fez saber disso as outras duas religiosas que estavam em sua cela. Este terceto de zelosas freiras resolveu
PARA ALÉM-LÁ DO QUE ENTRE GRAVETOS E GOTAS DIVERSAS POSSAM OS AMANTES USUFUIR. MEDÉIA: Estou na expectativa de acontecimentos há muito tempo, amigas, só imaginando o que pode haver ocorrido no palácio. Agora vejo um dos criados de Jasão chegar correndo aqui; sua respiração entrecortada indica que nos vem trazer notícias de alguma desgraça singular. MENSAGEIRO: Tu que, violentando as leis, premeditaste e praticaste um crime tenebroso, foge ! Foge, Medéia, seja por que meios for ou por que via, mar ou terra, nave ou carro ! EURÍPIDES. Medéia. ****** poema de Darlan O território se dá em azul, o dia não leve daqui a porcelana o engaste a víbora nela desenhada, sim, que as mãos que assumem a noite também assumam o resto da felicidade. ****** foto de jóias afegãs