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Mostrando postagens com o rótulo sátira
O mesmo de ontem, mas diferente. *****   1.      O que há de desnaturado no verbo somar, ainda que ao somar ele carregue consigo o verbo subtrair ? Ora, isto é natural, sempre foi, é e será. Alguém sempre perde algo no jogo: cesto, tijolo, bicicleta, a casa). Ó, quanto há de sombrio em certos sorrisos e certos apertos de mão ? Isto só se sabe depois que o rastilho de pólvora chega ao fim. 2.       Dominus vobiscum. Um dia - já era madrugada - eu e o amigo e vizinho voltávamos da balada, quando de repente Deus saltou à nossa frente e, sem sequer me notar, pregou-nos o óbvio, qual seja, um tenebroso, melancólico e enjoativo sermão, pelo que nos fizemos de desentendidos, deixando-o estático no passeio público. O sermão durou uma eternidade. Nem sei onde ele dormiu - talvez no hotel central ou na pensão da Dona Cacilda, os únicos lugares para isto nesta aldeia. 3.       Na sexta-feira santa do ano passado, eu e o meu amigo e vizinho estávamos em casa, beben
arroz com bacalhau desfiado *         Muito se diz que peixe morre é pela boca; também se diz que a cavalo dado não se olha os dentes, e que quem conversa muito dá bom dia a cavalo; e tambem se diz que a única coisa certa é a morte. Mas, enquanto esta não dá as caras, nada como prepararmos uns petiscos, lermos alguma coisa, tocarmos um instrumento, viajar - porque, como diz a canção Manuel, o Audaz, viajar é mais .   * Foto e texto: Darlan M Cunha
*        Mensagens com cifras, senhas, máscaras, duplos, sósias, anamorfoses, personas fazendo alusões e previsões, abrindo e fechando gavetas, segredos vendidos, guardados ou vencidos em seu tempo de encantamento, quando não são deixados para o momento mais propício a um escândalo ou à chantagem, sim, tudo isso está no cotidiano, ou não seríamos humanos, caso não inventássemos tais trunfos, essas cartas nas mangas. * Imagem: internet Texto: Darlan M Cunha
xxx-bumper-cars-1 (Chernobyl, UCRÂNIA)      São demais os perigos, diz uma canção. Nas esquinas, fios soltos, palavras presas a alguma chantagem, a algum ressarcimento, os ovos futuristas já cheios de angústia, e por isso mesmo estão gorados, já vencidos em seu tempo de encantamento, antes mesmo de serem postos à prova. O mundo corre, língua nos calcanhares do Outro, o mundo é filho da pressa que se tornou ícone, sim, a pressa é o ícone, batendo o ícone maior - o diabo. Talvez ambos venham de uma só estirpe, mas duvido, pois o demo é criterioso, e entende de humanos como só ele pode. O diabo é boa gente, o átomo está aí em toda parte, e também o glúten - essa proteína do trigo, a qual se tornou o novo vilão social. Texto: Darlan M Cunha
                                                                          Alice Shintani - quimera 2007 Quando o primeiro homem sem cabeça apareceu, não houve quem pudesse crer em mais nada, e durante muito tempo as coisas ficaram tão confusas na aldeia, que nem mesmo as crianças - em geral sábias - souberam como utilizar o tempo e o espaço, ou otimizá-los, ou compartilhá-los, segundo a linguagem do momento . Ora, homem sem cabeça é algo tão antigo quanto a água, de tal sorte que muito antes da invenção de deus e do diabo, pelos espertos das torás e suratas da vida, e afins, o famigerado homem sem cabeça já vagava sem maiores percalços pela amplidão do mundo - falésias, furnas, mesetas, istmos, ilhas e pauís ou pântanos. Sim, ele já se estrepava nos cactos, trocava rumos e urros com a caça e a pesca, até que chegou o tempo a partir do qual, premido por instâncias que nem a neurologia, a genética, a antropologia, a sociologia, a arqueologia e muito menos a psicanálise
                Pawel Kuczynski (Polônia, 1976 - )        Quando era mais garoto do que ainda sou, nunca gostei de prender passarinhos - só gostava mesmo era de matá-los, pegá-los em armadilhas e praticar anatomia. A gente vai crescendo, mas nunca muda de todo, ou seja, sempre terá as mesmas taras, fobias, desejos inconfessados, y otras cositas mas.        Aqueles e aquelas que ainda não matei, não perdem por esperar - embora eu seja reconhecidamente um bom garoto. Sem religião, per favore. Texto: Darlan M Cunha
    Pawel Kuczynski (Polônia)        Desde que mudou-se para a casa ao lado, mantém-se ocupado em transcrições, ensaios atrás de ensaios, de tal modo que mesmo os mais desajustados tiveram que ajustar-se às filigranas de um teclado bem tocado, é verdade, mas nada sutil para com os horários alheios, seu humor. Até que alguém na mercearia e bar - um lugar de ajustes de conta da aldeia -, disse que seria pior se rente à casa na qual nascera, naquela rua, um trompetista viesse para ficar, com escritura e partituras. Então, ouvindo isto, todos se lembraram do ditado popular que diz "dos males, o menor". Texto: Darlan M Cunha
by Pawel Kuczynski        É um fato a dependência dos filhos, seu longo caminho até a idade adulta práticamente não encontra paralelo noutros animais. O que há, ou parece haver, é que cresce cada vez mais o estranhamento ao conceito família, destruída por uma série de vetores que construíram a sociedade atual, que tanto dá quanto cerra portas num átimo. Ter é o verbo, e a pressa substituiu todos os altares, todos os deuses e deusas jogados num canto qualquer, formigas e teias de aranha em suas bocas, pois a pressa é a sina – nada acontece sem ela, sem o aval dela. E assim as pessoas enlouquecem, sorrindo, dirigindo e falando ao telefone, o ajudante cabal da pressa, esta, sim, a suprema corte social. A família, jogada numa gaveta, membros fraturados, dá seus penúltimos estertores. Penúltimos. Texto: Darlan M Cunha