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foi uma sensação sem punhos, sem lábios, indício algum de ter existido Quando será que na ocidental sociedade (porque nas outras sociedades, parece, este é um caso perdido, sim, pois nos fazem vê-las, a elas, como casos perdidos. Há sociedades em que as mulheres não têm nem mesmo um nome), repito : quando será que as mulheres não perderão seu nome de solteira após casarem-se - a não ser que o queiram perder, por livre e espontânea vontade, e não pelo arraigado costume de se reconhecer mais esta submissão a que foram e ainda são submetidas perante os homens, costume este que continua roendo-lhes os dias e vazando-lhes as noites ? (DMC) ****** Poema de Astrid Cabral (1936- , Brasil) O FOGO Juntos urdimos a noite mais seu manto de trevas quando as paredes recuam discretas em horizontes de além-cama e num espaço de altiplano rolamos nossos corpos bravios de animais sem coleira e juntos acendemos o dia em cachoeiras de luz com as centelhas que nós seres primitivos forjamos com a pedra las

OUTRA LUZ TE LEVA PELO BRAÇO, MÃE

Todas as curvaturas da Natureza sendo apenas um traço teu. Ficam comigo e com muita gente mais, minha Mãe, a tua candura e o teu silêncio cheio de fervor nos dias chuvosos; fica o tempero escorrendo pelas fibras do talharim, no queixo de uma filha tão esperta quanto o 'lôro' da vizinhança, sempre agarrado ao barulho mais comum das casas, sim, ficam comigo os teus anseios, Mãe, aquelas jóias sempre caindo da tua testa cheia de rubis, esmeraldas, turmalinas e diamantes, cheia daquilo a que todos nós nos acostumamos chamar de suor, pois eram jóias as tuas gotas de suor e as lágrimas que tu vertias nas madrugadas em que te levantavas para dar-nos outro beijo e ajeitar-nos o cobertor, eram jóias inenarráveis todas aquelas estrelas que tu fazias nos biscoitos, aquela tua fala toda bordada com um tipo de material jamais pressentido pelos pobres deuses e deusas, e assim os anos iam moldando os nossos haveres e deveres, e tu sempre a mesma, Mãe : severa, mas era a mais pura mentira
Talvez lhes falte sal, sono, um repto maior que a morte Garbos constantemente incitava Judas contra mim. Aos poucos, o animal deve ter chegado à conclusão de que eu era o seu pior inimigo. A simples visão de minha pessoa era suficiente para fazê-lo eriçar-se como um porco-espinho. Seus olhos tornavam-se injetados, o focinho e a boca tremiam, e escorria espuma por dentre os seus colmilhos ameaçadores. Precipitava-se sobre mim com tamanho ímpeto que eu receava vê-lo romper a coleira de ferro que o mantinha seguro, embora ao mesmo tempo ansiasse por que ela o enforcasse. Constatando a fúria do animal e o meu próprio temor, Garbos costumava às vezes soltar Judas e, mantendo-o apenas pela coleira, fazê-lo imprensar-me contra a parede. A bocarra rosnante, espumante, estava a apenas algumas polegadas de minha garganta, e o corpo possante do animal estremecia de fúria selvagem. Por pouco se engasgava, espumando e cuspindo, enquanto seu dono incitava-o com ordens ásperas e incitações brutais.
Canhoto da Paraíba (o violão brasileiro tocado pelo avesso) AS A LIVE THING The guitar is the most-played musical instrument in the world. Here, there and everywhere. Canhoto da Paraíba is a master of the brazilian music. ****** DISSERAM: "Intento atrapar las cosas más lejanas..." (Maitena, cartunista argentina) "São complicadas as emoções de quem sofre abuso sexual." (Teri Hatcher, atriz, EUA) "E um incêndio amarelo e provisório incendiou o coração." (Egberto Gismonti, músico Brasil) "Isso é o que caracteriza um escritor, né ? Ele vê ângulos característicos numa história." (Moacyr Scliar, escritor, Brasil) ****** Poesia de Darlan O pensamento magoa os feixes que atam o que de melhor se pode ter, e por isso não se peja de jogar pedras nem de devorar a carne da semântica a dizer-nos o que não queremos e a cobrar-nos juros tecendo sombras e limo na construção dentro da qual tu ardes ante alguma passagem. ****** Ca
A ida e a volta num mesmo lugar, dois lugares LAMPITO : É doloroso para uma mulher dormir sozinha, sem uma certa coisa... Em todo caso, estou resolvida, pois precisamos de paz ! LISÍSTRATA: Querida, você é a única mulher de verdade entre todas essas aí ! CLEONICE: E se, na medida do possível, nós nos privássemos disso que você disse - Deus nos livre ! - você garante que conseguiríamos a paz ? Será que não há outro meio ? LISÍSTRATA: O meio é exatamente esse. Se ficarmos em casa, bem pintadas, com vestidos transparentes, deixando ver certos lugares bem depiladinhos, e quando nossos maridos avançarem para nós, taradinhos, loucos para nos agarrar, nós não deixarmos, garanto que eles votarão logo pela paz. ARISTÓFANES. Lisístrata ou A Greve do Sexo (411 A.C.) Foto: DARLAN. Estação Ferroviária de Santa Bárbara, MG
um sopro a viagem: tela viva Ó solidão, ó solidão , minha pátria ! Tempo demais selvagemente vivi em terras estranhas, para não regressar sem lágrimas. Ameaça-me, pois, agora, com o dedo, como ameaçam as mães, e sorri para mim, como sorriem as mães, e dize logo: "E quem foi que um dia, como um vendaval, fugiu desabaladamente para longe de mim ?" Friedrich Wilhelm Nietzsche. Assim Falou Zaratustra. ****** Poema de Darlan ESTEIO Sabes que não se toma, impune, partido algum, e que de uma partitura, de uma pá solta num jardim, de uma bagagem extraviada, de uma cárie ou de um argumento sem sujeito nem advérbios de tempo ou de modo, de uma gata na parte extrema do telhado... de tudo isso se faz facção, sentido para a vigília. ****** imagem: MAPQUEST. Cidade de Montréal
Pacto algum, só algo de sombra Quando abri os olhos a primeira coisa que pensei foi contar o sonho para Susan. Então me virei para o lado, e vi que Susan tinha uma substância com jeito pastosa mas já ressequida na beirada da boca, no queixo, manchando o suéter preto. Era um amarelo escuro que o seu organismo tinha expelido durante a noite. Não parecia propriamente um vômito, mas uma secreção mais séria. A boca estava aberta, a língua à mostra. Tirei os seus óculos escuros. Os olhos escancarados, puro pânico. Recoloquei os óculos imediatamente. Peguei o pulso de Susan, soltei-o, não sabia o que fazer. João Gilberto Noll. Hotel Atlântico. ****** Poesia de Kalidasa (séc. 4-5 d. C. Índia) Rtusamhara / O Curso das Estações. O Outono Vestido de cana-de açúcar, de encantador aspecto do florido loto mítico, com deliciosa ressonância de argolas e grasnido de ganso brincalhão, esbelto, reverente e gracioso, como um talo de arroz maduro, chegou o outono, atraente como uma recém-casada. Trad.do
já não mais o assombro a procurar-nos Muito embora muito antes de ser percebida como sendo intrínseca à natureza humana, bem como à de todos os outros bichos e plantas, a Dúvida preserva alguns de seus segredos, de seus ecos diante da nossa mais ferrenha vontade, ou volição. Por exemplo: sabe-se que uma canção aplaca as curvas da cidade com estes bordões: Estamos aqui para salvar a tua vida: o tolo, o bêbado, a criança e a esposa dele. Noutro ponto da suicidade, o anúncio se satisfaz: Where have all the parents gone ? E assim o dia avança sobre os caldos e rescaldos, e a Dúvida do Quixote fica bem ali com a turba, veneno cooptando estigmas, o risco do bordado já não dando conta do sorriso em leque esquizofrênico na Inenarrável Algazarra da Morte. Ou da Dúvida ? DMC 1. ( Star. Set Yoursef on Fire). 2. Num canal de tv ****** Poema de Darlan SE SI DISTRUGGE QUESTA PAROLA Coisas miúdas acontecem assim como desafios novos surgem com mínimas ondulações na fala o homem ao lado meu espelha-
psicodelicado é o domínio público Entre a natureza dos estorvos impostos a quase todas as pessoas em todos os dias do ano, e uma espécie de crença na solicitude existente em grande parte delas, parece viver a impunidade, amiga do marasmo e amante de uma tara não compreendida nem cooptada pela Lei. Quando alguém envia um presente, nada lhe é mais desejável do que uma entrega sem restrições à pessoa ou no local em questão, mas se isto não acontece, então é certo que não há como ficar imune àquele estado que varia entre o torpor e a ira geradas pela impotência. Por isso, às vezes, nem se vai ao Correio, por ser de tal ordem o zelo perpetrado à pressão arterial, ao bolso, enfim, ao humor, que se pode desistir disso, que se pode apenas pensar que a Dor tem algo que não foi estudado: a Dor é fácil de ser esquecida. Pelo menos certas dores. Um presente foi enviado à minha mãe, desde o Canadá, mas não lhe vimos a beleza, os doces contornos das mãos de quem o enviou. E
Anatomia solo de uma inquietude (604 BC Babylonian year) UMA NOITE DE QUATRO ANOS Lembrou-se então que um velho conhecido seu dissera, enquanto iam uma vez mais por aí, que uma viagem de mil li começa com o primeiro passo , embora não se refizesse do baque, não se perdoando pelo fato de não estar naquela praça no momento em que aquela vasta tragédia gritava que tragédia é esta que cai sobre todos nós ? , até ajeitou um pulso no outro e ameaçou quebrá-los um contra um, contra a face mais próxima de outro engano do povo, sim, o povaréu sabe entrever e usar material para durar pelo menos por duas gestações mal sucedidas, sabe a que horas o fluxo e o influxo trocam de guarda, sabe que sua oportunidade tanto está nos coleios do álcool quanto nos meneios das sagradas escritas, nos ombros da estatística quanto nas trevas da lei e no dorso cabal dos novos sistemas imunológicos. Arrefeceu o ânimo, olhando o entorno da praça onde há pouco a multidão vituperava cada vez mais vociferava contra a
passagem sob sol sustenido maior Desde que as queimaduras de sol não estorvem o cotidiano, não ater-me ao que me afete mais de perto, não, nada digo aos transeuntes, nada falo a mim mesma aqui e agora todos sabem o que há no ar e nas plantas já se vê o delírio e o delíquio dos campos nos quais toda gente se mostra como é : o sol para todos -mais para uns-, e essa percepção de que as coisas tenham rumo exitoso, ah, ia me esquecendo da fala dos relógios, ia me excedendo no lucro diante dos meus pares e dos meus ímpares. Sei que a brincadeira, ou hábito, de enganar com as mãos é muito antiga, vem dos primórdios da Humanidade. Ponha uma pedrinha numa das mãos, e dê a oportunidade para que se adivinhe em qual delas está ou não está o arrazoado, a perdição. DMC ****** No dia 20 de junho, o bibliófilo e empresário José Mindlin foi eleito para ocupar a cadeira nº 29 da Academia Brasileira de Letras - ABL, vazia com o falecimento de Josué Montello. Há poucos meses, também fora eleito para a A
O AFETO QUE SE AFERRA A TI ( zanastardust ) Assisti uma longa entrevista concedida pela Rainha Rania, da Jordânia, a um programa de tv, nos EUA, durante a qual ela, sempre solícita e sem pieguismo, falou sobre caminhos trilhados e a serem trilhados pela gente de seu país -súditos e súditas-. como também pelas populações no mundo todo. Após diversas argumentações concernentes à família, à política, ao status, à beleza (outro status) e etc, em momento algum -repito-, em momento algum eu a vi cruzar as pernas, ao contrário da apresentadora e de práticamente todas as outras pessoas que lá estavam. Definitivamente, há mulheres e mulheres; conceitos e conceitos; obrigações e obrigações. DMC ****** Nada tenho a fazer, isto é, nada de particular. Tenho de falar, é vago. Tenho de falar, nada tenho a dizer, apenas palavras dos outros. Não sabendo falar, não querendo falar, tenho de falar. Ninguém me obriga a isso, não há ninguém, é um acidente, é um fato. Nada poderá jamais dispensar-me disso,
O f rio na espinha da História -Senhor -recomeçou, elevando ainda mais a voz -,Morozov, o teu bobo, está diante de ti, escuta a sua última brincadeira ! Enquanto viveres, os lábios do povo russo continuarão cerrados pelo terror; mas o teu reinado selvagem terá um fim, não ficará na terra senão a recordação das tuas ações, e o teu nome será maldito e execrado, de geração em geração, até ao dia do julgamento final ! Então, centenas, milhares de espectros, homens, mulheres, crianças, velhos torturados, degolados por ti, se apresentarão diante de Deus e se levantarão contra ti, seu carrasco ! Nesse dia terrível, também lá estarei vestido como vestido estou agora, e pedir-te-ei contas da honra que roubaste aos meus cabelos brancos. Não terás, então, ao teu lado, toda essa gente, para fechar a boca aos infelizes. O Juiz Supremo escutá-los-á e tu serás lançado às chamas eternas ! [...] -Ordenas-me que acabe com ele imediatamente, ou, por enquanto, o feche na prisão ? -Na prisão -decidiu Iv
Les A f finitès Élect ives ( FotoRita ) Seja como for, uma coisa está bem clara: essa fórmula que manda "alienar tudo o que é íntimo e dar forma a tudo o que é exterior" constitui o ideal da disposição consciente do introvertido. Tem por fundamento, de um lado, o pressuposto de um âmbito ideal do mundo íntimo dos conceitos, do princípio formal; e, de outro lado, a suposição de uma possibilidade ideal de aplicação do princípio sensível, que no presente caso aparece não como afeto ou afeição, mas como potência ativa. CARL GUSTAV YUNG. Tipos Psicológicos. ****** Poema de Michelagnolo Buonarroti (1475-1564, Itália) Madrigale LXVI Argomento: Non fu amandola como credeva felice, pure gode viver per Lei. Indargo spera, come 'l vulgo dice, Chi fa quel che non dee, grazia o mercede, Non fui, com'io credetti, in voi felice, Privandomi di me per troppa fede; Nè spero, come al Sol nuova fenice. Ritornar più: ch'el tempo nol concede: Pur godo il mio gran danno sol perch'
L IN HA L ET AL A vida desse mítico denominador comum que é o homem de rua é monótona como água estagnada, Sr. Roberts. A sociedade capitalista transformou-o em simples feixe de repressões e hábitos inúteis sob o símbolo da divindade da classe média, o chapéu-coco. -Desviou rápidamente o olhar das anotações na palma da mão. - O trabalho incessante por pão e manteiga, o bicho-papão do desemprego, os deuses chicaneiros da fidalguia, as mentiras ocas do leito conjugal... O casamento - arrematou, deixando a cinza cair no tapete - é uma prostituição monogâmica legalizada. DYLAN THOMAS. Retrato do Artista Quando Jovem Cão. ****** Mandem-no para mim, a ele, ao homem que chegar a alguma conclusão sobre qualquer coisa, em qualquer lugar e tempo. Tragam-mo, e à sua mulher. (Ouvido no Bar do Manoel Doido, no Mercado Central de Belo Horizonte, aos 22 de maio de 2006). ****** DOPO LA TEMPESTA The four seasons the hundred fingers of the sea the fearful noise of the air and a thousand do
seixos calmos JASÃO Monstro ! Mulher de todas a mais odiada por mim e pelos deuses, pela humanidade ! Tiveste a incrível ousadia de matar tuas crianças com um punhal, tu, que lhes deste a vida, e também me feriste mortalmente ao me privar dos filhos !. E depois do crime ainda tens o atrevimento de mostrar-te ao sol e à terra, tu, sim, que foste capaz de praticar a mais impiedosa ação ! Tens de morrer ! Hoje, afinal, recuperei minha razão, perdida no dia fatídico em que te trouxe de teu bárbaro país para uma casa grega, a ti, flagelo máximo, traidora de teu pai e da terra natal ! [...] MEDÉIA Essa injúria é pequena para uma mulher ? JASÃO Se ela é sensata. Para ti, tudo é ofensa. [...] EURÍPIDES. Medéia. ****** A poem of e. e. cummings (1894-1962. USA) i thank You God for most this amazing day: for the leaping greenly spirits of trees and a blue dream of sky: and for everything which is natural which is infinite which is yes - 'i thank You God' *** Um poema de Sophia de Mello B
Phyllobates terribilis Em relação ao peso e ao tamanho, este é o bichinho consagrado como sendo o mais venenoso do planeta, com veneno suficiente para matar muitos muitos muitos humanos (Sem rancores, por favor ! Nada de colocar raspas da minha pele no chá do / da cônjuge). Mais de 100 toxinas foram identificadas nesta rã. One species, Phyllobates terribilis, has enough toxin in its skin to kill up to 20.000 mice or 10 to15 people. *** ( Abraçando-a ) Não; não, minha querida Mateusa; tu bem sabes que isto não passa de impertinências dos 80. Tem paciência. Vai me aturando, que te hei de deixar minha universal herdeira ( atirando com uma perna ) do reumatismo que o demo do teu Avô torto meteu-me nesta perna ! ( atirando com um braço ) das inchações que todas as primaveras arrebentam nestes braços ! ( abrindo a camisa ) das chagas que tua mãe com seus lábios de vênus imprimiu-me neste peito ! E finalmente ( arrancando a cabeleira ): da calvície que tu me pregaste, arrancando-me ora os