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O frio na espinha da História



-Senhor -recomeçou, elevando ainda mais a voz -,Morozov, o teu bobo, está diante de ti, escuta a sua última brincadeira ! Enquanto viveres, os lábios do povo russo continuarão cerrados pelo terror; mas o teu reinado selvagem terá um fim, não ficará na terra senão a recordação das tuas ações, e o teu nome será maldito e execrado, de geração em geração, até ao dia do julgamento final ! Então, centenas, milhares de espectros, homens, mulheres, crianças, velhos torturados, degolados por ti, se apresentarão diante de Deus e se levantarão contra ti, seu carrasco ! Nesse dia terrível, também lá estarei vestido como vestido estou agora, e pedir-te-ei contas da honra que roubaste aos meus cabelos brancos. Não terás, então, ao teu lado, toda essa gente, para fechar a boca aos infelizes. O Juiz Supremo escutá-los-á e tu serás lançado às chamas eternas ! [...]
-Ordenas-me que acabe com ele imediatamente, ou, por enquanto, o feche na prisão ?
-Na prisão -decidiu Ivan, respirando com dificuldade. Mas não te lembres de o torturar de modo a morrer depressa; respondes-me por ele com a tua cabeça.

Conde Leon Tolstoi. Ivan, O Terrível.
******
Poema de Astrid Cabral (1936- / Brasil)
Círculo
Fatias do ontem e do amanhã:
a eternidade me contém.
Adivinho esta vida apenas
curto instante de glória
dentro de outra obscura e maior
pois desde o barro pré-histórico
estive de algum modo presente
na promessa de carne dos avós
milenares e habito igualmente
tácita a matéria dos filhos.
Humilde fragmento do mundo
sou perene dentro do círculo.
******
Foto mostrando uma Ouro Preto.

Comentários

  1. Nossa, senti esse post um tanto pesado....


    Beijos moço, boa semana!

    =]~

    ResponderExcluir
  2. Terrível, mesmo!!
    :P

    Gostei muito do poema da Astrid Cabral. Penso assim :D

    bjins
    Zana (just stardust)

    ResponderExcluir

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