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Pacto algum, só
algo de sombra






Quando abri os olhos a primeira coisa que pensei foi contar o sonho para Susan. Então me virei para o lado, e vi que Susan tinha uma substância com jeito pastosa mas já ressequida na beirada da boca, no queixo, manchando o suéter preto. Era um amarelo escuro que o seu organismo tinha expelido durante a noite. Não parecia propriamente um vômito, mas uma secreção mais séria.

A boca estava aberta, a língua à mostra. Tirei os seus óculos escuros. Os olhos escancarados, puro pânico. Recoloquei os óculos imediatamente. Peguei o pulso de Susan, soltei-o, não sabia o que fazer.
João Gilberto Noll. Hotel Atlântico.
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Poesia de Kalidasa (séc. 4-5 d. C. Índia)
Rtusamhara / O Curso das Estações.
O Outono

Vestido de cana-de açúcar, de encantador
aspecto do florido loto mítico, com deliciosa
ressonância de argolas e grasnido de ganso brincalhão,
esbelto, reverente e gracioso, como um talo
de arroz maduro, chegou o outono, atraente
como uma recém-casada.
Trad.do espanhol por DMC.
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foto: Cem Yurtserver. Diapositivo 3

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alto & baixo

Barreiro - BELO HORIZONTE, MG * Todos fogem, querem mudança em sua mesmice, novos degraus com textos e tetos, de um modo ou de outro, sentem que a vida é minuto, frutas murcham depressa, animais logo estão cada vez mais sisudos e mal-humorados, e assim chegam às monstrópoles, às suicidades. * Darlan M Cunha  

calmaria

  Uma calmaria aparente dentro da aldeia, sobre ela uma zanga de nuvens - mas não se deve levar nuvens a sério, por inconstantes - sina - e levianas feito dunas e seixos escorrendo e escorregando daqui pra lá, de lá para além-lá, feito gente nos seus melhores e piores dedos, entraves, momentos, encontros e despedidas. Um gotejo aqui e ali, mas outro tipo de gotejo num lugar da casa vai trazendo à cena o verso do português Eugênio de Andrade (Prêmio Camões 2001), decifrando a lágrima: " a breve arquitetura do choro ." Darlan M Cunha
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