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©AMARGO mulheres de sapato preto ainda existem                 mulheres de vestido preto existem milhares mulheres de negras lágrimas a sós existem Foto e poema: Darlan M Cunha
SALÃO DO LIVRO INFANTIL E JUVENIL - Belo Horizonte, MG, Brasil - set 2011 ASSUNTO Entra-se num corredor, e noutros, todos iguais a eles mesmos, sempre diferentes cada vez que se tenha de passar por eles: ora, se vais ao banheiro, na volta, o tal corredor já não é o mesmo, que o silêncio grita querer mais gente com quem dialogar (?) naquele ambiente sem diálogo que acenda uma fogueira sequer; e as luzes frias da tecnologia não piscam para ti, as dores do mundo saindo de um túnel em busca de um sanduíche num bar, de uma sã madrugada, ó vias de difícil acesso que são estas veias, corredores, labirintos, curvas e curveretas que o diabo ele mesmo teme; ó lavoura cujas sementes apodrecidas sob falsos raios de luz estão à porta, já sabes há muito tempo sabes que o jeito é ir, sofrer ao lembrarmo-nos daqueles e daquelas que fizeram de nós parte do que fomos e somos e seremos; mas agora vergam-se para dentro de nós estes novos e já velhos brancos corredores cuja seiva é enfiada n
Sibipiruna (Caesalpinia peltophoroide) PRÁTICAS A prática do mal nas memórias  da mão sinistra mostra algo  como se fosse um azougue num relógio que não cessa de (ch)orar, vítima do pasmo, mas não do marasmo,  pelo que a destra cola seu rosto na palma da sinistra. Só assim, pensa, só assim serei, seremos. Juntas. Texto e foto: Darlan M Cunha
O AR EM SEU ESTADO NATURAL  Textos sobre letras do CLUBE DA ESQUINA   (2a impressão).  Comprar direto com autor: CONTATO: darlan.in@gmail.com JORNAL DIÁRIO Estás dormindo, mas a alface que comerás daqui a várias horas já está sendo colhida, retirada de dentro dos olhos da neblina, sob a vigília da corcunda das colinas em redor da horta. Cuida então que os sabores desta alface, da beterraba e do pirão de peixe não sejam diluídos pelos temperos cada vez mais fortes dos dissabores cotidianos. Texto e foto: Darlan M Cunha
PULSÃO SOB METÁFORAS AS CADEIRAS DOS CAMPANA Imagino mendigos e idosos refestelando-se em cadeiras desenhadas pelos irmãos Campana (SP), ouvindo estalarem as sementes e os grãos da estação, sejam eles algodão, trigo, milho, café, mostarda ou girassol, enfim, a partir de uma boa cadeira pode-se ver mais enganoso o mundo, sua complexidade passível de algum entendimento. Do you remember your old chair, Matusalem? CERTOS NOMES Yasmim e Zana são nomes de timbre agradável de se ouvir, embora eu também goste de Zefa, mas não com a mesma intensidade do nome Zeferina, do qual ele é contração. Há que se considerar os obstáculos e até dissabores que os nomes, por incrível que pareça, podem acarretar aos donos e donas, sim, por exemplo: é notória a quantidade de nomes esdrúxulos que se dá a muitas pessoas, e, embora isso esteja escasseando, o fato é que nomes criados pela junção dos nomes materno e paterno são comuns, no que muitas vezes resulta em reais aberrações gramat
EM 1980, ESTIVE NO PERU... E NÃO HÁ COMO ESQUECER. NEM NOITE, NEM DIA * Nem noite, nem dia o absurdo não avisa hora para requerer moedas aos filhos do sol; o absurdo é música sem o aparato da clave de sol, o alcance do lá e as simbioses que a dor emite através de um nó maior (dó), que o absurdo ejeta do assento as notas em que esteja assente uma diagramação bem formatada de atitudes sociais, dentro delas estás tu, todos nós – todos os ambos, trios, quintetos e octetos, todo o ror (the horror, the horror). Sempre noite, sempre dia ovos imensos de pássaros, aves e répteis estão nas ilhas onde marinheiros de toda cepa se estarrecem e se maravilham com eles – os ovos com o seu incerto futuro, que o futuro já nos parece dente bambo. Nunca a noite seja todo o dia, vice e versa, nada de amar o próximo, melhor que se o conheça em sua noite veloz, com a sua síndrome de abstinência maior a qual, talvez, seja a do amor. Texto: Darlan M Cunha
BAR CHOVE LÁ FORA (aqui dentro só pinga) Num dia sem nome e sem data, entrei aí, igual a um peregrino sem aviso de que existisse tal local de peregrinação, e por lá mesmo fiquei eu, filho do cansaço, da fome e da sede, nem digo da solidão amorosa, que isso é doença antiga; e tão afoito cheguei lá, que nem li o título exuberante avisando que tipo de peregrinação se faz naquele inigualável lugar no qual, se não todas, porque é difícil, muitas mágoas e águas salobres ficarão lá mesmo, sobre o balcão ou na mesa que porventura escolhas para nela passares o tempo necessário para que em ordem a tua teimosa desordem interior fique. Foi isso mesmo o que se deu com este antigo aprendiz de sacristão, hoje, o diabo em pessoa, vil autor de O Dicionário do Diabo: Temas para Enamorados . Uma autêntica música de viola abria as janelas do dia para a freguesia, e lá mesmo conversei com um casal alemão, que ia de cidade em cidade, sem pressa, até por alguns estados, e gostaram imenso de ta
FERNANDO BOTERO Pois o mundo é roda viva, e enquanto fatos apenas ameaçam serem fatos, uma moça deita-se com um livro, e aborda com ele uma dúvida, uma quase certeza, uma certeza, porque a moça, de dentro e do alto da sua monumental solidão, quer mais do que apenas pentear cabelos, muito mais do que somente beliscar o pão que sobre a mesa sorri para ela, quer mais do que perceber que o vizinho deu um tiro pela culatra, que os documentos não ficaram prontos, que a correspondência está atrasada, ora, a moça não quer, de jeito nenhum, ficar nua impunemente. É isso: o natural parece estar cada vez mais distante, e assim ela revira os poros e os olhos do livro, à procura dos próprios olhos, já quase tão descrente e demente quanto o próprio mundo lá fora, que o seu mundo começa nalgum lugar ainda indefinido, ainda sem encontro marcado com o plantador. Texto: Darlan M Cunha Arte: Fernando Botero
WENDY GUERRA (escritora e jornalista cubana, 1970) Meus pais não fizeram a guerra para a vitória porque eram muito jovens, mas tampouco chegaram a tempo para as liberdades desse sonho ideal. Frustrados por não terem feito a Revolução, eles a sustentavam. Carregavam a sociedade como quem suporta uma viga sobre o corpo; todavia, quase sempre felizes por fazerem parte, por serem uma das vozes do grande coro, eles também resistiram. Isolaram-se bem no centro dessa geração capturada, sem encontrar saída. Mas já chega, caros ouvintes, agora vamos ouvir um pouco de música enquanto fazemos uma pausa antes de tudo que hoje eu quero confessar. Vamos ouvir Carlos Varela, interpretando sua canção “Foto de família”. [...] Detrás de toda la nostalgia, de la mentira y la traición, detrás de toda la distancia, detrás de la separación. Detrás de todos los gobiernos, de las fronteras y la religión hay una foto de familia, hay una foto de los dos." Fot o: blog da Heloísa
HOSPITAL & FOGO Sabe-se que o fogo é antigo, língua da antiguidade é o fogo, mas há quem diga que ele é andarilho, maluco, libidinoso, mero assecla de satã, e outros epítetos, apelidos e adjetivos ou títulos honoríficos, mas o certo é que ele é o sinônimo mais exato de incerteza, depois do humor dos homens. O fogo difere de nós por ele não ter nenhuma patologia, não precisa de medicina nenhuma, sendo, por sua natureza ímpar, o depurador de tudo. Foto e texto: Darlan M Cunha
Rua do TIRA CHAPÉU - Centro Histórico de Salvador, Bahia, BRASIL SHOWCIEDADE Tendo morrido aos vinte e sete, desde então tem sofrido mais barbáries, vindas da boca dos bárbaros, até porque, afinal, o que mais pode haver na garganta profunda de um bárbaro, de uma bárbara? Assim sendo, para muitas e muitos, o fato é que o vício acabou com a criatura em questão; para outras figuras do non sense, e para muitas outras também desqualificadas, a integridade com que se dedicou à própria vida foi o que danou a pessoa, e assim é que o número vinte e sete ficou mais generoso e dramático, maldito e acintosamente imantado, sendo um irresistível chamarisco, campo de apostas tornou-se este número, exato e inexato quanto todos os outros, e é bom não esquecer que os números são ou parecem ser infinitos, deuses da utopia, da ganância, o que há de mais sedoso e espinhento na pauta do sexo, evidenciam o inalcançável, e é por isso que a vida e a morte de certas criaturas não têm sossego, mesmo após pr
POLA OLOIXARAC Sua escolha de carreira e seu caráter retraído não fomentavam as relações com garotas; na faculdade só tinha conhecido duas, e não podia assegurar que reunissem méritos suficientes para ganhar a denominação "garotas"; tinham o estilo de baixinha amorfa que depois herdaria sua filha. Logo se tornaria evidente que o destino e a opção intelectual tinham feito de Rodolfo um elemento forçosamente fiel, monogâmico e heterossexual. Era natural, então, que, assim que a Providência o aproximasse de uma mulher (uma pertencente ao conjunto "garotas"), Rodolfo se aferrasse a ela como certos moluscos nadadores viajam pelo oceano, até que cravam seu apêndice muscular no sedimento como um machado, cuja concha ou manto tem a faculdade de segregar camadas de cálcio ao redor da película mucosa que o lubrifica; ao fim de um tempo esta se rompe e o molusco volta a ficar à deriva, que varia entre o oceano e a morte. Encontrou-a caminhando pela avenida Corr
MADAGASCAR ... traditional village north of Antananarivo DOS GONZOS EMPERRADOS DE UM PORTÃO, ÀS LUZES DO OUTRO LADO amor é qualquer coisa de simples: todo mundo tem um ou dois, e até mais, gênero de primeira necessidade na despensa da vida, parece que o amor pontua em lugares e tempos os mais imprevistos: no mercado, lá onde pega fogo a feira de verduras e legumes, feira de rosas, entre elas os espinhos do amor (dizem que tem muitos), simples assim é este mais que verbo possessivo: amor com amor se paga, diz o provérbio, mas algo simples feito gotas de desespero é amar Texto: Darlan M Cunha Foto: IMÁGENES Y GRÁFICOS
TRABALHAR CANSA  /  LAVORARE STANCA Diz o título do livro de poemas do italiano Cesare Pavese, que trabalhou dez anos nele. Sabemos que trabalhar cansa, que é absolutamente necessário, trabalhar enrijece corpo e mente, etc. Mas me lembro aqui, de repente, daquele sinistro e sarcástico mote sobre uma entrada de campo de concentração: Arbeit ist Freiheit /  O trabalho liberta. Como se vê, o trabalho está sempre na ordem do dia, mas como eu sou do contra, abomino servir a este patrão, e assim é que vivo por aí, de déu em déu, fazendo de mim o que sou, das tripas coração, sempre arredio ao tempo forjado num relógio pregado no pulso, melhor, na mente, o que é estressante. Tá na hora, gente, que o metrô espera, o ônibus espera, a bicicleta espera, a barca espera, o estresse é chefe, patrão, absoluto senhor dos teus anéis. Foto e texto : Darlan M Cunha
FERNANDO DINIZ - interno do Museu do Inconsciente, RJ Nasci na Bahia, no arrabalde Estrada da Boiada ou Aratu, não sei. Tive uma irmã clarinha, nasceu e morreu. Mamãe mudou. Mudou para um barracão no morro. Era uma só rua. Depois veio para o Rio. Eu não tinha nenhum brinquedo quando criança. Então sonhava todo dia com brinquedos interplanetários. O poder de sonhar com o que quiser - menos sonhar com o que é da terra. Houve um tempo em que quis ser engenheiro para casar com Violeta. Mas engenharia não gostaria de estudar. O livro de engenharia é um monte de pedras, pedras e pedras. A caldeira é de tijolos sobre tijolos. Tudo igual. Aí tira o mistério do mundo. Não sei porque milagre passei a gostar da escultura e da pintura.  Depoimento: Fernando Diniz   /  Foto sobre um de seus trabalhos (MI - RJ) MUSEU DO INCONSCIENTE