PULSÃO SOB METÁFORAS
AS CADEIRAS DOS CAMPANA
Imagino mendigos e idosos refestelando-se em cadeiras desenhadas pelos irmãos Campana (SP), ouvindo estalarem as sementes e os grãos da estação, sejam eles algodão, trigo, milho, café, mostarda ou girassol, enfim, a partir de uma boa cadeira pode-se ver mais enganoso o mundo, sua complexidade passível de algum entendimento. Do you remember your old chair, Matusalem?
CERTOS NOMES
Yasmim e Zana são nomes de timbre agradável de se ouvir, embora eu também goste de Zefa, mas não com a mesma intensidade do nome Zeferina, do qual ele é contração. Há que se considerar os obstáculos e até dissabores que os nomes, por incrível que pareça, podem acarretar aos donos e donas, sim, por exemplo: é notória a quantidade de nomes esdrúxulos que se dá a muitas pessoas, e, embora isso esteja escasseando, o fato é que nomes criados pela junção dos nomes materno e paterno são comuns, no que muitas vezes resulta em reais aberrações gramaticais, arrancando a pele da semântica, ou coisa que o valha. Muitos soam de forma inequívocamente risível, e até constrangedora. No ensaio Todos os Nomes, o autor fala de peripécias a que os nomes estão sujeitos, através do ofício de um pífio funcionário, e assim por diante.
AS PRAÇAS
Sonhar uma praça que viva cuspindo flores de buganvílias e hibiscos, e não flores de sangue, que as praças são o equilíbrio, parte do sustento psíquico das populações, ainda que impensado ou quase nunca sentido conscientemente, mas nem sempre isto é assim, cada vez menos assim, porque as praças estão tornando-se lugares de fato irresistíveis para a desrazão, a sujeira, o crime tem ali o seu quartel primaz, a sua igreja general. Já nem mesmo consigo ver a criança que fui, em praça quase nenhuma – que ainda as há, belas e sadias.
O ATLETA
(110 metros com barreiras, World Championship in Athetics – Daegu, South Korea)
Endividado com a clareza necessária, momentânea vítima do torpor, o atleta é só cansaço, extremo cansaço, ajoelha-se, olha pro céu, lambe o céu da boca e ameaça chuvas e trovoadas chorar – vítima do Outro.
Texto: Darlan M Cunha
Foto: Isaac Catão
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