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Rua do TIRA CHAPÉU - Centro Histórico de Salvador, Bahia, BRASIL

SHOWCIEDADE


Tendo morrido aos vinte e sete, desde então tem sofrido mais barbáries, vindas da boca dos bárbaros, até porque, afinal, o que mais pode haver na garganta profunda de um bárbaro, de uma bárbara? Assim sendo, para muitas e muitos, o fato é que o vício acabou com a criatura em questão; para outras figuras do non sense, e para muitas outras também desqualificadas, a integridade com que se dedicou à própria vida foi o que danou a pessoa, e assim é que o número vinte e sete ficou mais generoso e dramático, maldito e acintosamente imantado, sendo um irresistível chamarisco, campo de apostas tornou-se este número, exato e inexato quanto todos os outros, e é bom não esquecer que os números são ou parecem ser infinitos, deuses da utopia, da ganância, o que há de mais sedoso e espinhento na pauta do sexo, evidenciam o inalcançável, e é por isso que a vida e a morte de certas criaturas não têm sossego, mesmo após prostradas no mais álgido decúbito, sofrem algias, com uns dizendo que daquele jeito não haveria mesmo como continuar provando nabos e camarões e outros acepipes; outras, por não conjugarem o particípio passado, num caso assim, dizendo que é uma perda que não se perde, mesmo perdendo-se a si e de si mesma a criatura (antítese magistral ou mero jogo de falavras? apenas outro interstício lacrimoso?). Tendo morrido aos vinte e sete, o campo invadido por gafanhotos, a relva entra na boca de insetos numa quantidade nunca vista, que a boca da desídia é vasta, longa é a traquéia da irrisão, porque são mesmo muito vis o nicho estomacal e as vias parenterais dos habitantes de prostíbulos, sejam declarados ou subreptícios, os prostibulandos. Cada vez mais anchas e fundas estão as olheiras da vaca, e alto o alarido na banca liquidando poemas e parafusos sem fim, arquimedianos. Mortas e mortos aos vinte e sete, quem será a próxima vítima duma incubação que só mesmo certo colar de calor é capaz? Perquirição, teu nome não é www.

Texto e foto: Darlan M Cunha

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