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Mostrando postagens com o rótulo psicologia
Maria Torres (Tumblr)      Escuta bem o tempo, como se os alarmes estivessem entre algodão, à maneira como se faz com joias, cristais, tesouros de família, objetos exigindo devoção, sufocados, sem direito à respiração pausada. Não, certos ares são impossíveis de se dar às relíquias familiares, e muito menos aos ícones sociais, à pena imposta pelo olhar social. É de se admirar então que depois de tantas curvas, subidas e descidas, espasmos dados pelo cotidiano, até talvez um dia a criatura chegar às pontes de safena, o coração resista, e até nos induza a ir mais longe, desprezando a fala desiludida de que trabalhar cansa, crente que o ócio também tem seus encantos. Sim, eis a matéria da qual é feito o cotidiano: dualidades. Assim, é preciso ter como certo que mesmo quando arrancado o coração pode sobreviver. Texto: Darlan M Cunha Arte: Maria Torres
Pawel Kuczynski (Polônia, 1976 - )        Ganhar a vida é o mais antigo refrão - parte terra, parte água -, mas o ar exigido para se dizer tal frase monumental é pouco, o suficiente para abrir os olhos de todos, pelo menos os olhos e os ouvidos de quem tenha ou queira ter tino sagaz. Ou nada de bom virá. Os fenícios, os persas, os nabateus, enfim, povos de fato muito antigos, com certeza tinham essa mesma percepção, embora para chegar a ela usassem de métodos já idos, ou não. Meu vizinho à esquerda me diz que nada mudou, no que diz respeito a isso, ou seja, a exigência do meio sobre o homem não mudou, o que mudou foram os métodos a serem usados, devido às novas invenções, às novas necessidades criadas, ou seja, todo mundo percebe isto. A Natureza parece dizer constantemente: Precisas de mim, escavar será a tua graça, teu dom maior e irremissível seja a inquietude . E assim o Homem se soube um tipo que exigiria mundos e fundos de si mesmo, larga e sangrenta trajetória até sentir
         Não disse nada durante o estupor geral diante das chamas, não arredou o pé do lugar de onde assistia o ocaso de uma era ruindo sem sal, açúcar, água e óleo, até porque nada mais era compartilhado naquela casa; não eram ingredientes comuns à mesa de quantos lá viveram o tempo necessário para se desconhecerem por completo, sim, em tudo isso e em algo mais aquela pessoa pensava, de pé dentro dela mesma, muda, enquanto o fogo se cumpria mais alto do que o estupor geral, ambos - fogo e criatura - alheios a algum escárnio grosseiro, aos ventos da pressa imobiliária, às cantilenas judiciais.                   Não disse nada enquanto o fogo torneava as pernas do espanto, e nem mesmo depois de silenciadas as últimas brasas, varridas as cinzas, e de delimitados o espaço pertencente à família, e o espaço do passeio público. Só ele sabia quantos foram mortos lá dentro.           Texto: Darlan M Cunha Imagem / Arte: fiammata di flamenco # fire
  Pintura sobre papel, by TÂNIA FILIPPO (Rio / Bahia) 1. DEPOIS DA ÁGUA, O ARTESANATO Depois da água, há outro encantamento que me fascina de modo cabal, desde o meu mais tenro vislumbre das coisas: o artesanato. Isto porque, para mim, (eu só viria a saber disso, de fato, tempos depois, pelos estudos continuados, viagens, pessoas e também pelas imitações de gente que eu conheci), para mim, as paredes das cavernas, onde a primeira arte pictórica encostou-se, ou achou abrigo, achando a tela mais lógica onde estabelecer-se e esperar pelos futuros humanos, são contemporâneas do meu entendimento do que seja a vida, melhor dizendo, do que foram as primeiras passadas humanas, seus dedos rasgados em busca de vegetais, até aprenderem a fazer triângulos de pedra e encaixá-los nalgum tosco e curto, depois longo, pedaço de pau, servindo assim de lança para caçar bichos e para matar invasores. Sim, os primeiros tempos foram tenebrosos, iguaizinhos ao de hoje, esse tempo no qual procuramos bolha
CONTRÁRIO AR CONHECIMENTO DO INFERNO Deu-se com ele que o dia já lhe parecera, logo ao abrir as percepções, meio nublado, sensações mais que estranhas, senão alteradas, e nem debitou aquilo às cervejas e caipirinhas e, muito menos, aos tipos de petiscos, abundância de afagos, nada disso poderia influir naquela sensação tomando conta de seu corpo e de sua psique. Olhar e reolhar o próprio jardim é qualquer coisa de básico, embora quase ninguém se lembre deste preceito fundamental. Jardim, ou cinzas, sim, jardim, cinzas. Para ele começara, sem que o percebesse, começara o conhecimento do inferno, com suas águas de mágoa e ouro falso, de bocas entreabertas, mas bocas sem céu da boca - só vala abstrusa, seca, metuenda, algo com que todos os perseguidores sonham, sim, mas com ele a coisa seria diferente, pelo simples fato de que era o dono do seu próprio inferno, suas técnicas e táticas eram unas, únicas, unidas ao extremo de se conhecerem de longe, só pelo bafo multiplicado por ene. Queria
RUMO À PER FEIÇÃO PEÇAS SOLTAS Contemple o amor como se fosse um (m)ar profundo, raso, calmo, tempestuoso, com correntes circulares e correntes intermitentes, com muito e pouco alimento, azulado e lilás, cinzento e cheio de crostas gélidas, complete-o de longe e de perto, de dentro e de fora. Lembra que o amor é a esquerda, ou direita, face de sua antítese. Misturado: corpo de água e mente de óleo.
"Você, meu amigo de fé, meu irmão, camarada..." Diga-se isto, diga-se aquilo a respeito de mim, o que sei é que continuo sendo alvo de sonhos, de versos e controvérsias, sim, sou o mono, macaco, mico, símio, figura simiesca, sou (no caso desta foto) um mico-estrêla, e me vejo assim na selva ou mesmo num parque enorme, sempre lidando com as coisas do cotidiano, ecos inerentes a um verdadeiro morador da selva, da mata atlântica: gente. Ah, gente é bicho até legal, mas é um bicho muito aborrecido e aborrecedor. Vê: ele - o bicho-homem - quer rir, e o que faz ? Me chama, me dá um naquinho de pão, e acha o máximo, e pensa que EU também acho o MÁCSIMO, por ficar bem beliscando na mão dele, do homem fabricante de desfolhantes químicos (meus primos do Laos, do Camboja e do Vietnam ficaram sem galhos onde fazerem farra, namorar, voar de galho em galho, fornicar, gritar, amar), e eu não me esqueço disso, mas sempre dou desconto para os humanóides, figurinhas difíceis, dignas de que se
FACE A ISTO O maior orgulho do Diabo não é a arquitetura arredondada, abaulada, ovalada e triangular dos seus mil fornos, nem o pronto atendimento a quem chega, a hipnose de suas brasas, a sutileza de suas gozações e o branco de seus dentes e o vermelho impecável de seus cornos, mas sim quem entra pelos seus mil portais, sim, o maior orgulho do Demo são as suas visitas (e não vítimas, pois vieram pra cá porque deus os mandou pra cá, ele diz, eu digo). Sua grande motivação é a de estar por dentro e ter aquilo que todos e todas que com ele vão ter necessitam, ouvir-lhes os suplícios, o medo de camundongos, o temor às ameaças de deus e seus puxa-sacos, sim, sua felicidade é ficar ao lado de quem dele necessite num momento de fragilidade, pois o Capeta tem larga visão, bom garoto, entende de fogos de armistício quanto de fogos de artifício – sendo que destes ele não gosta, pelos artifícios que soltam só enganação. O dicionário do Diabo não poupa elogios às suas visitas (e não vítimas, con
DESDE QUE TEMORES & DESTEMORES Aqui a culatra sai pelo que foi e não foi dado. Entenda: por um lugar não usual quando se fala de racionalidade, mas usual quando se fala de sua contrapartida – o que é o comum. A estupidez grassa, medra, está em constante movimento, involui ao evoluir, e isto lembra-me algo assim como o destino das estrelas e galáxias, do universo, ou seja, fadado a se expandir e, depois, a se encolher até desaparecer. Mas será mesmo que a estupidez terá a grandeza de auto avaliação algum dia, ainda que distante este dia, ainda que além lá de anos luz ? DMC Foto:Sarah-Jane Lynch
ARTÉRIAS & CATETER DESCONHECIDOS DE TODOS OS DIAS A gente os vê todos os dias, sempre os mesmos, sempre diferentes em suas mesmices de favas contadas e tiques nervosos atravessados na suicidade ou monstrópole onde a gente se esquece dos elos necessários para que a ponte não desabe, o jardim não seque, e a noção de amizade nunca se dilua, sim, os desconhecidos nos conhecem de sobejo, sabem onde pegar e apertar, sob que cláusulas abrandar o nó no pescoço há tempos sob mando destes pequenos desgraçados (acontece isso com quem fala muito: ouvir mar onde mar não há, e isso tem nome: “acusma”, sintoma de distúrbio psíquico). Os desconhecidos não têm nome, nem contrato social algum contigo, nada neles é do teu conhecimento, e mesmo assim vem uma empatia entre as partes, atraídos por algo que o Outro parece ter superado, mas é engano, somos duplos, sim, a realidade é que os desconhecidos somos nós mesmos vivendo tempos diferentes, vivendo ego mas pensando
NÃO... MAS TER CUIDADO É INSTINTIVO. Li, no sempre interessante blog de uma amiga minha, que ela se submeteu recentemente a um teste de audiometria , e disse não ter gostado nada, e me imaginei nesta circunstância, ou necessidade. Um aparelhinho lhe é entregue para que você, dentro de uma cabina, o ponha no ouvido, através do qual saem sons puros que servem para analisar o grau e o tipo de perda ou não de audição (aparelhos médicos dão medo , impaciência e antipatia, em tipos e graus variados... hehe (a vingança é humana). Ela submeteu-se a uma audiometria tonal , e não à audiometria vocal , pelo que depreendi. Estes procedimentos são delicados, e podem, conforme o médico achar, exigir, por exemplo, tomografia do crânio, após considerados aspectos psíquicos, emotivos, e até por possível problema dentário, mas estas análises e decisões são tomadas com o devido cuidado a partir de uma consulta inicial, ou anamnese , ou após outras consultas, devido a queixas do paciente / cliente de n
ZANCOS Francisco GOYA (Esp., 1746-1828) ***** MANCOS São inumeráveis os mancos em todo o mundo, em qualquer rua se lhes pode sentir a andadura de sempre: cambaios, arredios, sarcásticos (tentando compensar deficiências), pondo em causa a causa disso e daquilo, ah, mas os mancos também se divertem, geralmente dando badaladas uns nos outros com a própria cabeça e pernas-de-pau. Agora... é claro que podes (ou deves) levar isto que eu aqui escrevo como sendo uma metáfora, uma alusão a todos nós. Melhor, por mais real. DMC