FERNANDO BOTERO (Colômbia) ANIVERSÁRIO DO TÍMIDO O tímido é trabalhador de fazer boa construção ao bordejar a sintaxe do amor como se o abraçasse uma jibóia, e assim vai bordejando o amor como quem vai para longe ou como quem vem de longe, o tímido canta lígia e carolina, solfeja por ana e por outras, e se esborracha na rua ou na praça onde a banda apresenta-se à cidade submersa, ou imersa em sonhos (sempre legítimos são eles). No bojo da cidade vai o trem, o subúrbio é flecha longa, e o tímido tem uma namorada lá, e noutros lugares distantes, de onde tira tijolos para a construção do retrato em preto e branco de todo cotidiano cheio de sal e sol, de carne de sol na feira, porque a cidade tem de tudo o que os introvertidos e os extrovertidos necessitam para as fissuras de suas armaduras, e não há nada de paradoxal em sentir o que não se vê, e assim é que o tímido vê o mundo, mas de outro modo...