ACERCA DOS TRAGOS DESTA VINHA
Estava eu à toa na vida, quando o carteiro se fez cumprir ao entregar-me um estranho objeto pleno de símbolos, e mais que símbolos. Fiquei inerte, como fico quando diante de algo maior do que a minha pífia compreensão de tudo aquilo que seja de fina genealogia. Já refeito, abri-o.
A MULHER NA JANELA
Esse prédio é bem alto,
é verdade,
mas não chega ao desespero.
É a solidão da cidade.
Meta-lhe a faca, a parede
é carne humana de fato.
Esse prédio, todo vesgo
concentra um certo aparato
de dar "bom dia" entre aspas.
Esse prédio tem calosidade nos olhos
e nos pés uma miopia ambulante
Dezessete cruzes no sangue
e outras tantas cruzes incontáveis
Ambulantes cemitérios quando
elevadores tantos emperrados.
É bem alto, é bem alto,
é verdade,
mas não chega ao desespero.
É a solidão da cidade.
Com rumores apenas dos amantes
seus suspiros embargados.
***
UM PRECIPÍCIO SEM RETORNO
Vamos e venhamos, Cláudio,
entre pastores
além do limo e das torres
e dos cavalos e dos bispos
e da usura, do ouro e das cirandas
circuncizar a cidade enquanto chove
pois de repente a vida é um precipício sem retorno.
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