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AS PORTAS (34) O simbolismo da porta nos sonhos se dá de muitas formas, mas a boca de um forno não é necessáriamente o canal materno; sonhar com a porta de uma igreja não será estar no inferno. As portas e as pontes: alguém canta ou emudece diante e debaixo delas, que desabam se alterado um ângulo, se alargado nelas o temor por quem as usará. Texto e foto: Darlan M Cunha
A DERME E O QUE CORRE VENAL Você já foi à Bahia ? Não vá, assim de qualquer jeito, não vá, pois bem poucos conhecem o que há por lá – mesmo os nativos. Recomendo que conheças o de dentro, e não o de fora; mas poucos e poucas podem mostrar-te o de dentro. Balelas aos montes, pascoais e menelaus,  maritacas e papagalhos aos montes. Não vá ao exterior da Bahia; vá ao fundo, e amarra nos teus cambitos os caminhos onde à cegueira seja proibido ir. Nada de pecha de turista. És de casa, mesmo sem sê-lo. Faz valer a tua fala e a tua intuição. Vá ao interior do que tenha a Bahia, nada de vatapás e carurus cheios de superficialidades, vá lá dentro do acarajé, no íntimo da peixada; entra fundo no golpe de capoeira de nome “aú”, e não te deixes enganar de jeito nenhum por malabarismos toscos para turistas; entra na África, embora para isto não seja necessário ir à baiana terra; assim, estuda o que em ti late, berra, geme, relincha e faz muxoxos; estuda bem o que em ti escoice
SEXTA BÁSICA Nesta cesta básica tem algo de você e de todas e todos os outros, pois nesta sexta de alusão à vida não podem faltar os nutrientes básicos da flora e da fauna permeando o dia, enchendo os rios, fluindo e secando lágrimas, seja como for, esta sexta básica é feita dos caminhos da quinta e da espera pelas pepitas do sábado. Texto e foto: Darlan M Cunha
NATUREZA DESNATURADA Em marcha, o soldado urina sobre a planíci e. Sabe próximo o fim (o da planície, talvez, também o seu). ***** Texto e foto: Darlan M Cunha
SOBRE RODAS (pero no con la culpa bien adentro) Sobre rodas chega o dia, deita-se   sob rodas a noite, bramindo as jazidas permanecem no máximo fervor, sob o olhar atento da gula dos homens sobre rodas e ordens mais ordens, renitências na forja, enquanto Yisela Sosa canta memórias suas que são da cidade onde ela compra pão, bebe chimarrão y hace y canta y toca milongas uruguaias, em Paysandú ela nasceu en la pampa, canta: por isso é divertido / às escondidas brincar. Pensa levezas que a vida põe ao nosso dispor, chama pássaros ao palco (pero no con la culpa bien adentro). Foto e texto: Darlan M Cunha Yisela Sosa e mais Yisela Sosa
VIDENTE NO AREAL Traçando um risco e depois outro e mais outro no areal que cercava a aldeia e o coração, lenta e enigmática, dispersando cinzas que em sua tez se formara, olhando o algodão escuro e pesado no céu, disse, entre silvos, que se tornaria em algo que não era de si, por si, ser. À espera ainda está.  Foto & texto: Darlan M Cunha
                                                                                                                                                                        BAR DU BETO Embora isto pouco aconteça, deve-se olhar com calma para as coisas e as gentes, mas isso só o fazem as raras pessoas que não se deixam escravizar pela essência da pressa, que é  mãe, pai, amante e o diabo a quatro de uma showciedade na qual todos são especialistas. Quando você encontra um lugar agradável, mas agradável não a você somente, mas agradável ao que o sossego, a razão mostra, mal se pode crer em tal ventura Em Belo Horizonte, este é um deles: o Bar du Beto, na Cidade Nova, ao lado do Parque. Foto e texto: Darlan M Cunha
DOCUMENTÁRIO O Sr. White – nome de colonizador e pele de nativo tem ele – nasceu e mora na boca das cataratas Vitória, no rio Zambeze. Tem pequena lavoura, não raro arrasada por secas devastadoras ou por semanas de chuva. Diz ele, num documentário, ter sete filhas, oito filhos e três esposas. Pois bem. Outras felicidades espero que o Sr. White conheça, de diferentes modos da sua. Ele, que sabe onde o Zambeze esconde seus peixes, tem um amigo na aldeia, de nome Edwin, artesão que faz “makoros” - grandes e esguias armadilhas para pegar peixes no turbulento e enorme rio. Josephat é ótimo pescador. Peixes secando. Aves comendo sal nos barrancos. A névoa engole o rio, mas mais tarde o sol queimará o algodão dependurado no céu. Arco íris lunares são comuns, como são comuns as risadas dos bichos que ninguém vê ao certo. Todos têm medo mortal dos hipopótamos. O Sr. White, cujo olho direito é coberto de névoa, ou seja, ele tem a sua própria catarata, contempla o
CERTOS DIAS & OS OUTROS DIAS Há dias que ficam tão dentro da gente que não há como esquecê-los, sendo que pode até mesmo acontecer de se tornarem faca de dois gumes, pelo fato de chegarem ao ponto de nos incomodar e prejudicar porque, a partir deles, todos os outros devem ser confrontados, de uma forma ou de outra. Esses tipos de dias, menos comuns, senão raros, falam alto, falam linguagem de solidão, por paradoxal que possa parecer, de solidão, não obstante evocarem só coisas boas como um passeio sem igual, uma resolução pessoal definitiva, enfim, algo verdadeiramente extra, cabal (pra mim, basta um dia, um meio dia).  Os Trabalhos e Os Dias é a famosa obra do grego Hesíodo (cerca de 700 a.C), no qual ele narra suas pendências com o único irmão, Perses, sobre o pequeno terreno que o pobre pai lhes deixara de herança. Sim, todos temos os nossos trabalhos, os dias azuis ou cinzentos. Assim é que nada mais desejável do que guardar sob sete chaves um passeio memorável,
SOLILÓQUIO Acho que vou morrer em casa, mas nunca se sabe, quase nunca. Os suicidas sabem. Só eles detêm esta sapiência, este deboche supremo contra o meio, o garrote vil social. Só eles. Não recomendo. Não vou em contra. Eu mesmo me vi morto, inúmeras vezes me vi morto: morto estive no quarto só meu, morto estive viajando de trem, morto estive, assentado num parque, matutando desesperadamente a ver como conseguir algo para mitigar meus vícios, nenhum deles reconhecido, nenhum deles com a sopeira cheia, o bolso de armazém. Eu quis, sim, matar pulgas e piolhos em mim, de modo absolutamente não convencional, nunca antes feito, mas me esqueci de como é, após anos de pesquisa severa, ultra secreta, particular. Esqueci-me por completo, e isso é coisa do Inconsciente, que quer me ter  por perto, sempre subjugado a ele. Texto e foto: Darlan M Cunha
AS TELHAS, A PONTE Do meio do nada um grito ecoou (seria a lanterna dos afogados dando alarme ?). Súbita hora, dia nenhum a se lembrar com mais vagar e fundura das coisas que virão, sim, o dia esteja aqui bem exposto, e ainda mais o amanhã, porque devemos cuidar das nossas telhas, devemos olhar as estrelas, mas não através das telhas, e, sim, através do sentimento, mas voltemos às raias “de asfalto e gente que corre pela calçada, e entope o meio fio”, até porque não há nada mais interessante do que a desinteressante coisa de nome ser humano, sua arquitontura é - pelo menos para mim e para mais meia dúzia -, é algo digno de nota, mas amanhã será outro dia, nada será como antes, isso embora todo dia seja um dia sem nota de maiores esclarecimentos quanto à feitura de uma ponte sólida e linda que nos leve um ao outro. Texto: Darlan M Cunha Arte e Foto: Tânia Filippo
RAUCHEN VERBOTEN Proíba essa mão de tocar nesta face, de tomar a si o ventre da questão entre ambos, isso pelo repetido cansaço que dás à mente e ao coração de quem agora te diz: proíbe essa mão de querer o que não possa. Ah, e apaga o pigarro.
IMENSO CHIP Relendo umas páginas de O Homem e seus Símbolos, do C. G. Jung e colaboradores, lembrei-me da Biblioteca de Alexandria, construída no século 4, por Alexandre, O Grande. Sempre tive-a no imaginário, e o arrojo dos homens que iniciaram obra deste porte, enchendo estantes e mentes, como hoje se faz, embora a miniaturização, a web. Fala-se do incêndio que acabou com ela, embora tenha sofrido terremotos, saques, desleixo, abandono, e guerras. É de se notar que eram raríssimos os que sabiam ler àquela época. A Fundação Biblioteca Nacional é a sétima maior do mundo, com 9 milhões de livros (orgulho-me de ter registro meu lá), e documentos de todo tipo. Sim, os humanos temos fôlego até mesmo para nos matarmos. Fôlego e fogo, fogos de artifício, fogos de armistício (estes são mais raros do que pergaminhos egípcios, ou ainda mais raros do que encontrar cabelos de uma mulher etrusca, por exemplo, ou um muiraquitã, amuleto dos marajoaras, pequena pedra verde de