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A DERME E O QUE CORRE VENAL


Você já foi à Bahia ? Não vá, assim de qualquer jeito, não vá, pois bem poucos conhecem o que há por lá – mesmo os nativos. Recomendo que conheças o de dentro, e não o de fora; mas poucos e poucas podem mostrar-te o de dentro. Balelas aos montes, pascoais e menelaus,  maritacas e papagalhos aos montes. Não vá ao exterior da Bahia; vá ao fundo, e amarra nos teus cambitos os caminhos onde à cegueira seja proibido ir. Nada de pecha de turista. És de casa, mesmo sem sê-lo. Faz valer a tua fala e a tua intuição. Vá ao interior do que tenha a Bahia, nada de vatapás e carurus cheios de superficialidades, vá lá dentro do acarajé, no íntimo da peixada; entra fundo no golpe de capoeira de nome “aú”, e não te deixes enganar de jeito nenhum por malabarismos toscos para turistas; entra na África, embora para isto não seja necessário ir à baiana terra; assim, estuda o que em ti late, berra, geme, relincha e faz muxoxos; estuda bem o que em ti escoiceia, bufa, arrota, faz êmese e hemoptise; o que em ti talvez seja assombro, tambor de lata, ou grãos de uma nova Era; e talvez possas dialogar com a Realidade algum dia; portanto, não vás sem mais nem menos àquela Bahia de todos os homens e mulheres. Vá lá dentro. Estuda sociologia, antropologia, etnologia, psicanálise. Mas o que é realmente lúcido é estudar o que o instinto cobra. Estuda-te, pois, enquanto tempo é de ir às recôncavas terras. Cacau na boca e no bolso, onde mais houver e couber. Tu já foste às tuas estrias ? Já foste às tuas maravilhas, nêga ? nêgo ? Então, vá.


Fotos e texto: Darlan M Cunha

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alto & baixo

Barreiro - BELO HORIZONTE, MG * Todos fogem, querem mudança em sua mesmice, novos degraus com textos e tetos, de um modo ou de outro, sentem que a vida é minuto, frutas murcham depressa, animais logo estão cada vez mais sisudos e mal-humorados, e assim chegam às monstrópoles, às suicidades. * Darlan M Cunha  

calmaria

  Uma calmaria aparente dentro da aldeia, sobre ela uma zanga de nuvens - mas não se deve levar nuvens a sério, por inconstantes - sina - e levianas feito dunas e seixos escorrendo e escorregando daqui pra lá, de lá para além-lá, feito gente nos seus melhores e piores dedos, entraves, momentos, encontros e despedidas. Um gotejo aqui e ali, mas outro tipo de gotejo num lugar da casa vai trazendo à cena o verso do português Eugênio de Andrade (Prêmio Camões 2001), decifrando a lágrima: " a breve arquitetura do choro ." Darlan M Cunha
  TREM DOIDO DE BOM     Lembrei-me, neste instante, de um termo jocoso, bem capiau, daqueles que deixam o cabra assim meio na dúvida, ou seja, se está sendo gozado, ou não, porque é mesmo engraçado, simplório. - "O senhor tem canivete aí, do tipo de folha larga, assim de um dedo de largura, bom pra picar fumo, e outras coisas ?" - "Bão, tê, tem, mais já acabô. Mais iêu vô di pudê incumendá pro Snhô Voismicê lá na capitá Béózônti, qui daqui trêis día, sem saculejo di atrazo, já tá aqui incima du barcão, prontim pra Vossa Sinhuria fazê uso do bichão, qui é mêrmo muito bão." - "Pois o senhor me faça o favor de pedir um para mim, de preferência com cabo de madrepérola, mas se não tiver, que seja de cabo de osso." - "Será feito, patrão. Agradicido."   _  Darlan M Cunha