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IMENSO CHIP


Relendo umas páginas de O Homem e seus Símbolos, do C. G. Jung e colaboradores, lembrei-me da Biblioteca de Alexandria, construída no século 4, por Alexandre, O Grande. Sempre tive-a no imaginário, e o arrojo dos homens que iniciaram obra deste porte, enchendo estantes e mentes, como hoje se faz, embora a miniaturização, a web. Fala-se do incêndio que acabou com ela, embora tenha sofrido terremotos, saques, desleixo, abandono, e guerras. É de se notar que eram raríssimos os que sabiam ler àquela época.

A Fundação Biblioteca Nacional é a sétima maior do mundo, com 9 milhões de livros (orgulho-me de ter registro meu lá), e documentos de todo tipo. Sim, os humanos temos fôlego até mesmo para nos matarmos. Fôlego e fogo, fogos de artifício, fogos de armistício (estes são mais raros do que pergaminhos egípcios, ou ainda mais raros do que encontrar cabelos de uma mulher etrusca, por exemplo, ou um muiraquitã, amuleto dos marajoaras, pequena pedra verde devidamente esculpida, ou encontrar o que tenha sobrado do primeiro par de sapatos de Macunaíma – se ele os teve). Fôlego para fazer mísseis, mas isso é tão banal que já não chama a atenção nem mesmo dos bebês. Voltemos para Alexandria.

Em 2002, esta mesma cidade inaugurou uma biblioteca simplesmente espetacular, de vidro e alumínio, na forma de um imenso chip, pretendendo ser paradigma de biblioteca para o novo século, e  mais. Eu me vejo lá, embasbacado, tropeçando na História, em histórias e estórias. Consta que toda embarcação que chegava ao seu porto tinha de levar papéis até lá, onde documentos em todas as línguas ou dialetos eram copiados, mas só as cópias eram devolvidas, pois os originais ficavam no acervo da Grande Casa. Sim, vejo-me lá, de sala em sala, até me cansar, pedir um café e cair no sono, até nova jornada.


Texto: DARLAN M CUNHA
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