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DOIS TIPOS DE PÃO: trigo e livro


Ficou gritando "que a esperança seja a penúltima a morrer", escandindo verbos e execrando adjetivos e quaisquer sinonímias que levem para fora o amor, enfim, perdido perdido – que o amor pode fazer muito mal.

Então, num lapso raro, incrívelmente realista, eis que ele se saiu com essa, algo de si para si: "Vivo quase sempre só,  porque no fundo eu só amo a mim mesmo, por isso sei tão pouco do que seja um relacionamento, porque eu, consciente ou inconscientemente, logo o destruo, portanto, não sou como um circo ou um circense que levanta e abaixa a mesma lona todos os dias de sua vida. Não. Vivo de cabeçadas nos muros, de muro em muro, de urro em urro."

E assim é esse tempo de crianças filhas de um carnaval murchando cada vez mais pela escassez de matéria prima para um riso sem manchas; eis, enfim, a alegria com uma perna quebrada, a troca da alegria pela alergia generalizada.


Foto e texto: Darlan M Cunha

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