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O AR EM SEU ESTADO NATURAL


Aqui está o meu mais novo livro – um misto de pequenas crônicas, vou assim chamá-las, entremeadas com poemas. As pessoas já familiarizadas, ou não, com as emoções do Clube da Esquina, com suas canções, as entrevistas, as fotos, os casos engraçados, terão aqui um pouco de petiscos para saborear, petiscos com os quais assentarem-se à mesa, assim espero. Nada de entrevistas, de fotos. Escrevi o livro com a leveza necessária, leveza de quem percebe que a amizade é gênero de primeira necessidade, devendo estar na mesa de todos, algo de cesta básica, e este sentimento está presente em toda a obra do referido clube, de modo explícito ou subreptício, ou seja, é como está no livro: o que está sendo apreciado no livro é o  "conceito de amizade", e não própriamente a repetição da palavra, do termo, do substantivo amizade. O conceito é o que vale, e é disso que este modesto livro trata, sem pretender nem mesmo de longe esgotar o assunto. Amigo é coisa pra se guardar  debaixo de ene chaves.

A idéia surgiu de repente, embora o meu Inconsciente estivesse fustigando-me havia tempos acerca desse tema. Morei vinte e nove anos na região que eu sempre chamei de os bairros irmãos: Floresta/ Santa Teresa/ Horto/ Sagrada Família e, mais distante, os outros bairros irmãos: Lagoinha e Cachoeirinha, região reduto de músicos e artistas plásticos, região que é casa do excepcional grupo de bonecos - o Grupo Giramundo (hoje, na Rua Varginha, esquina com Pouso Alegre, próximo à minha ex morada), criado e desenvolvido pelo professor Álvaro Apocalypse e sua esposa Teresinha Veloso. Tempos depois, por ali surgiu o hoje também internacional Grupo Sepultura. Para completar, sem esgotar o assunto, a excelente rapaziada do também internacional Skank, apesar de não serem nascidos ou moradores dos referidos bairros, não se cansam modestamente de dizer que beberam e comeram na fonte musical do Clube da Esquina. Água de beber, bica no quintal / sede de viver tudo.

E assim iniciei o livro, o qual ficou pronto em poucos dias, mantendo o cuidado extremo de fazer com que ele não resvalasse para o pieguismo, para coisas de agrados a conhecidos, a amigos e vizinhos, etc; tive o cuidado de dosá-lo de tal forma a que uma pessoa de outro estado, de outro país, de outra latitude e longitude possa lê-lo, sem que a essa pessoa seja necessário procurar dicas em mapa, dicionário ou enciclopédia. Tenho inexcedível apreço pela minha literatura, e não posso sujá-la de forma alguma, até porque intrínseco a ela, dentro dela estão o meu saber e a minha honradez. Bom, acho melhor ir à macarronada do Bar do Bolão, em Santa Teresa, isso porque amigo é coisa pra se guardar. Da janela lateral / do quarto de dormir.

Os textos surgiram sem maiores esforços, sim, eis que os títulos surgiam e diziam: eu sou o título, e estamos conversados. Fazer o quê ? Muitos deles fazem alusões diretas ou explícitas a títulos de canções, bem como no seio de todos os textos há um ou dois ou mais pequenos trechos ou frases de alguma canção, sem que isto configure cópia, ou plágio. Completamente fora de questão.

Sim, escrever este livro foi como bebericar uma cachaça com torresminhos, comer ora pro nobis com angu, algo assim de frango ao molho pardo, isto se o pão de queijo deixar espaço na já volumosa pança dos glutões e glutonas. Mas quem, em sã ou sob má consciência, ou até mesmo inconsciente ou dormindo, resiste a tais delícias ? Lembro-lhes aqui a senha dos Inconfidentes, todos já se preparando em surdina para o grande dia da Derrama, com aquela que, hoje, é frase famosa: "Tal dia é o batizado”. É, mas eles bem que poderiam ter escolhido também esta simpática senha: “O pão de queijo está no forno.”

Pelo que sei, ainda não se escrevera algo assim acerca deste clube, não obstante textos de primeiro time tenham sido publicados sobre o mesmo. Recomendo, por exemplo, o excelente livro da Andréa Estanilau, Coração Americano – 35 anos do álbum Clube da Esquina, assim como recomendo a leitura (como não, uai ?) do livro que é mesmo um verdadeiro memorial acerca do assunto, escrito de dentro, do âmago: Os Sonhos Não envelhecem, do Márcio Borges, e também o belo livro Palavras Musicais, do Paulo Vilara, entre outras publicações merecedoras de respeito.

Sim, de tudo se faz canção e caução, e o pão de queijo saiu do forno.

DARLAN M CUNHA
*****

OBS.: Agradeço à Equipe da CBJE - Câmara Brasileira de Jovens Escritores -, do Rio de Janeiro, através da Vânia e do Sr. Georges Martins (editor) a excelência do material, pela  produção gráfica a cargo do Sr. Fernando Dutra, bela diagramação, enfim, à toda a Equipe, o meu "Muito obrigado".

Darlan M Cunha

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