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FRUTÁLICA


Assim como o calor amolece as frutas
sobre a mesa, cala fundo no morador a modéstia
do silêncio que nunca grita
por ali, se sem razão alguma 
se acha; e assim como o clima atordoa as pessoas
em seu mister, fazem furos na paciência do morador
certos atritos do mundo.


Frente à casa e talvez frente a si mesmo
rumo ao mar, um homem sozinho
conversa, sobe
noutra fatia do tempo, continuando
monólogo do qual se sobressai a inutilidade
de cada palavra caindo feito lenho
                                                               à sombra do mundo. 



Foto: Filip Dujardin
Poema: Darlan M Cunha                                                                      

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