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E AÍ, TIO ? SOU GIRA, GIRA...





A CÁLIDA VINHETA DE UMA SOLIDÃO
(Aconteceu-me de eu estar a falar com alguém do outro time, num bar)

A criatura sai do seu ninho, de sua solidão
curtida feito cachaça a que se quer dar excelência,
dribla de leve o Grande Moinho e tenta vergar
a vontade que a Lei tem de cair-lhe nos costados;
sabe que a mãe de todos não o faz perder
o sono, só cócegas lhe dá, corgo sujo
a orillitas del canal
*
a Lei é só um mosquito no copo do facínora
que se passa por gente
de bem. Vê: ele
é teu cúmplice numa tréplica qualquer
ao governo, num banco
de metrô ele é teu motivo de riso e de crença
en la amistad (friendship), mas
seriam diferentes para ti as coisas
se notasses que quando ergue a saia na manhã
a assassina troca de mãos, muda
o modo de se vestir, de falar
e matar
que antes era asfixia mecânica ? Hoje, ela pega carona
nas técnicas oficiais, mas pega também
com deus para que de volta do colar citadino
uma opção lhe sobre
para então chegar
à casa, sabendo serem falsas em geral as menções
a si mesma - ouve-as a assassina
num bar com tevê, e tu ali ao lado dela, sem nada saberes
ouvir nem ler (quem não ouve, morto está),
ali, junto a ti e aos teus
iguais, tomando sol, toma seu vinho o descaminho.


DMC
*: da canção Balderrama, gravada por Mercedes Sosa.

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