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CARGA & FISSURAS














RESOLUÇÕES PARA O NOVO ANO: NADA DUPLICÁVEL, UM TESTAMENTO.


Às vezes – disse - somos atraídos pelo que odiamos. Noutro lugar, alguém ainda menor disse que a coisa mais importante num bairro pobre não é a justiça, mas a comida, e logo fingiu procurar fazer face ao seu medo.


Agorafobia ou síndrome de abstinência, algum suicida potencial ou à caminho da catatonia, algo da mesma estirpe e pelo menos do tamanho das ansiedades está nas raízes das resoluções de novo ano. Novo ano seja a tua contagem, única, genética.


Melhor então prometer o que não se vai cumprir, melhor então cair numa cacimba e beber-lhe toda a água salobra, melhor então esforçar-se para infernizar a vidinha do próximo, da mulher, e preparar o mais exato veneno para a maioria.


Há até mesmo quem pare de fumar, logo entrado o ano, pára por dois ou três dias, e logo se lembra de que o céu caiu no chão e não mais se levantou na memória dos Homens, enquanto a propaganda faz parecer ágil e fácil o que não é.


Promete ser mais felina, promete ser mais borboleta, menos raquítica moralmente mais letal ou coisa que o valha, promessas e premissas escapando feito cardumes de tainhas e anchovas desesperadas, ostras quebradas, um pátio incendiado.

Nem eucaristia nem paralisia, nem secos & molhados, nada menor que uma tecnofobia a serviço da monstrópole única que está se formando, nada de belas fotos do aqui e do agora, o Mundo é só Conceito – muito pouco para entrar ou sair do meu

Testamento.

******

(DMC)
foto: Darlan

Comentários

  1. Eita...

    Que 2007 venha pra ti leve. E repleto de coisas boas!!

    :)

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  2. Obrigado, NINA. Não será difícil, com uma pequena ajuda das minhas amigas e amigos.

    ResponderExcluir
  3. Ou seja, quando não se quer nada adianta!!! Promessas são internas e e feitas, não faladas!! Excelente "testamento" hehehe
    PS; Faltou a poesia em versos!

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  4. Caro THIAGO,
    não é nenhuma surpresa, para mim, que você tenha logo entendido o chamado "espírito da coisa", que procurei relatar aqui nalgumas linhas.

    É mesmo. Faltou a poesia.
    Na próxima postagem, caro amigo.
    Aquele 2007 !

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