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o canarinho Milton Sentimento
os periquitos Zé e Ana



DEZEMBRO


dezembro está aí cobrando lugar
na memória dos tempos, selvagem
tendo sido a pele que cobriu seus
antecessores, nascido urbano,
ele logo saberá em que colete
se meterá, saberá que para
fazer de si algo maior
do que simples recompensa
de fim de ano, ou algo diferente
de duas ou mais moedas no bolso
da ilusão de cada pessoa
e de cada empresa, terá que morder
os próprios calcanhares, porque
úmidos e sufocantes foram
os outrros dezembros, sob
gotas de chuva e de ácidos,
mas este número doze terá de livrar-se
de entulhos que cerceiam
a raiz da fala que possa fazer
com que ele entregue em pratos limpos
e de mãos abertas o caminho para janeiro


Foto e poema: Darlan M Cunha

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