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gosto de ti, pequena cidade, onde ainda posso assentar-me

com meus calos e minha insônia, onde ainda se pode

beber algo mais do que o fel cotidiano


gosto de ti, do barulho do córrego e das procissões

das formigas passando por dentro do gramado, o cheiro bom

de um silêncio só quebrado por algum distante

riso



de criança – talvez seja mesmo a minha distante infância

chamando-me


Foto e texto: Darlan M Cunha

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