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ACORDO ORTOGRÁFICO:
entraves, dúvidas, opções


Recebi hoje o boletim (n° 262) sempre muito esperado por mim e por muitas outras pessoas, no Brasil e no Exterior, que é esta maravilha dedicada à Poesia - de nome POESIA.NET. Devo referir-me ainda ao site Alguma Poesia (Ave, Palavra !), tudo sob orientação de Carlos Machado, incansável.

Pois bem, caros, após comentar a boa, límpida poesia de Amélia Alves, ele faz comentário sobre o Acordo Ortográfico sacramentado há pouco, mas com ressalvas de boa parte de quem trabalha com as letras, cotidianamente. Ele nos alerta sobre vários ângulos desta medida que, visando a unificação do idioma português, etc, poderá, por outro lado, gerar muitas dificuldades, por exemplo, quando da substituição do acervo bibliográfico das escolas fundamentais em todo o país.

Carlos Machado explica melhor o que penso exatamente; por isso, e por mais, tomo a liberdade de transcrevê-lo:

ORTOGRAFIA

Enquanto não se definirem com clareza os critérios do novo acordo ortográfico, este boletim não o adotará. Aproveito para dizer que não vejo nenhum benefício (ou explicação) nessa mudança. De tudo que já li, ficou-me apenas que o objetivo único do acordo seria a unificação da escrita em todos os países de língua portuguesa. Só isso? Parece uma bobagem. Não existe, por exemplo, nenhum acordo de unificação entre Inglaterra e Estados Unidos. Ingleses escrevem labour; americanos, labor. E daí?

Do mesmo modo, quem é alfabetizado, não encontra problema nenhum, por causa da grafia, ao ler Saramago, Mia Couto, Fernando Pessoa. Do outro lado, os portugueses, angolanos, moçambicanos etc. também lêem muito bem autores brasileiros. (Neste boletim, sempre que transcrevo textos portugueses, mantenho a grafia original.

Ainda não encontrei nenhum argumento que me convença das vantagens dessa unificação. No entanto, estou mais do que convencido dos prejuízos dela. Vocês já pararam para pensar nos custos de substituir todo o acervo bibliográfico das escolas fundamentais no Brasil inteiro? Isso sem contar na perda de tempo com um reaprendizado inútil — e piorado com o fato de que, até agora, os mandarins da língua não definiram direito a grafia de uma série de palavras, especialmente entre as que têm ou deixam de ter o hífen.

Dois exemplos de como a nova ortografia — que, com razão, até hoje ainda não foi verdadeiramente engolida pelos portugueses — desfigura as palavras, confunde e atrapalha a leitura. Observem estes exemplos:

• coprodutor (antes, co-produtor)
• autorretrato (antes, auto-retrato)

Na primeira, o que se lê, de saída, é copro-dutor. Parece algo como um cano de esgoto. E a outra palavra, teria alguma coisa a ver com retrato do autor?


CARLOS MACHADO
Alguma Poesia
Poesia. Net
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Foto: Darlan (escola no bairro, Buritis, Belo Horizonte, MG)

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