Pular para o conteúdo principal
Pequena trilha de sépalas é o que nos dá a manhã, e nos faz prolífera a tarde, e de algodão a noite.









GOSTAR DE TI É UM POEMA, DIZ A CANÇÃO *


Ainda que não acorde no ano que vem, por você esperaremos, melhor: por você daremos voz às canções. Nas panelas e camas desta família, temperos da abjeção e do ódio nunca tiveram quarador, nenhuma guarida tiveram os membros de alguma disputa que não fosse clara como a primeira noite de um homem e de uma mulher, sim, nesta família comum (incomum, como todas, por seus delírios, grandes os campos do “a fazer”, colinas e montanhas onde uma água sem igual, decerto, espera-se sempre encontrar)...

dizia eu que a parceria com as perdas é mais que sintoma, e é fato que a família em questão também passou por bons bocados, e que ecos de sempre nas quinas dos telhados dão conta de quantas glórias subiram paredes e pisos da casa, quanta doceria e quantos salgados noites fora e noites dentro fizeram o acervo familiar, glosas subindo degraus (primeiro, os degraus; depois, o todo da escada), porque há-se que prosseguir dando aulas

à Vida, vazando abstrações e realidades,

sem nos esquecermos de que todos, de todas as gerações, vertemos diárias dores, mas dando sempre o possível à imaginação... E porque cá estamos com o nosso moinho, e o nosso tesouro nós não o guardamos de nós mesmos, pois é nele que buscamos o mar e o sertão, o sorriso do domingo no parque e os sons e cheiros adocicados de mil padarias, todos os nomes possíveis e ecos dos mil e dois formatos da palavra “Sim”, damos-te


um abraço amigo, amigo Pai.


Darlan M Cunha
Escrito especialmente para a Família da minha / nossa amiga
Márcia Kawabe.
Belo Horizonte, 30 de outubro de 2007, 11:46 h

*: (verso da canção portuguesa “Uma flor de verde pinho”, de Carlos do Carmo)
*****
Foto: clear sky, de ROSANA PRADA

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

FLORES SÉSSEIS, VIDROS E ÁGUAS: CONSTELAÇÃO DE OSSOS 1. O ENCANTAMENTO PELOS MATERIAIS Vidros e águas se entendem, agarram-se uns aos outros como um pensamento bom atrai outro de sua estirpe, como as pedrinhas de um caleidoscópio fazem umas com as outras, ou seja, abraçam-se e soltam-se num emaranhado nunca igual, mas sempre com o intuito de união, sua sina sendo a de viverem unidas, mantendo a própria identidade – o que é cada vez mais difícil, mais improvável entre os humanos. Águas e vidros: água doce e vidro plano, água salgada e vidro temperado, água suja e vidro opaco, água limpa de bica e vidro colorido  de igrejas e bordéis, sim, de tudo se faz canção e caução, e o coração na curva de um fio d’água estalando gotículas nas costas dos lagartos (agora tu sabes a razão do sorriso do lagarto, uma delas), úvula e cio, nonada , tiros que o senhor ouviu... , o rio cheio de mormaço, espelho d’água é a sensação de um rio calmo calmo calmo, tu vais com ele, entras n...
 mudança * De repente, de modo suave, você se lembra de quando chegou à cidade grande para continuar a estudar, depois veio o Exército, o emprego federal, mochila e violão nas costas, enfim, uma infinidade de erros, de riscos e risos, o amor que rói os tigres, de acordo com um livro cubano, se não me falha a memória com centenas de livros, se não milhares, sim, de repente, você pensa nas pessoas mudando de casa e de cidade, de postura perante a vida (uma luta difícil); quando se muda de casa, vai com a gente uma dupla sensação: de alívio, e de peso pelo que se viveu, a visão a partir da janela, tiques de vizinhos, uma praça e uma pessoa amiga com a qual foi possível conversa de gente grande. Neste momento, pessoas estão carregando ou descarregando móveis, apreensão e entusiasmo, que a vida é breve. *** Darlan M Cunha    

calmaria

  Uma calmaria aparente dentro da aldeia, sobre ela uma zanga de nuvens - mas não se deve levar nuvens a sério, por inconstantes - sina - e levianas feito dunas e seixos escorrendo e escorregando daqui pra lá, de lá para além-lá, feito gente nos seus melhores e piores dedos, entraves, momentos, encontros e despedidas. Um gotejo aqui e ali, mas outro tipo de gotejo num lugar da casa vai trazendo à cena o verso do português Eugênio de Andrade (Prêmio Camões 2001), decifrando a lágrima: " a breve arquitetura do choro ." Darlan M Cunha