Pular para o conteúdo principal
DE SE IR
EMBORA, OU
DE SE ACHAR
MELHOR
ONDE SE ESTÁ,
HÁ MUITAS
CANTIGAS,
MIL TONS,
ARES & ÁGUAS,
MAS QUE HAJA
ALGO DE TI


RECADO BEM TEMPERADO

Duas amigas, não própriamente decididas a dar um novo rumo em suas vidas, mas, sim, a fazer valer um secreto e antigo desejo (há-os às pencas em cada um de nós), qual seja: o de serem cantoras, sim, cantantes, inundadas de dós e mis, tons e semitons, bemóis agudos e sustenidos maiores, ambas assim meio desassossegadas pela oportunidade que nunca lhes vinha, resolveram por conta e risco, dor e alegria próprias, dar vazão à vontade que logo se tornou um ponto de honra para elas mostrarem sua volição, o que significa, em psicologia, vontade própria para atuar.

Fiadas nisso, reuniram um repertório que não as deixava dormir completamente, e se trancaram até que a fornada de seus anseios ficasse pronta para o usufruto geral, dando a todos a oportunidade de conhecer outra capacidade delas: a de cantar, sim, o simples e complexo ato de bem cantar – o que difere de simplesmente cantar. Ora, vamos e venhamos, pois o que dirão o Milton e a Gal ? Fortuna e Sérgio Ricardo, Barbra Streisand, Leonard Cohen e Mercedes Sosa ?

Um tempo indeterminado depois que as nuvens, os carros, a chuva e os impostos sumiram de seus pensamentos, as (agora) cantoras ficaram frente a, pelo menos, um real esboço daquela felicidade, sim, cá pra nós, coisa indescritível é a gente realizar qualquer coisa da qual não nos achávamos capazes, ou porque não tínhamos os instrumentos necessários, ou porque não havia parceria digna do fato, ou então porque o medo e a timidez eram grandes demais para aquele passo, sim,

vamos e convenhamos que é uma sensação muito boa, reconfortante. E foi isso, com certeza, que essas duas amigas - das quais lhes digo algo aqui e agora, sem, aliás, estar formalmente autorizado a isso - sentiram durante a gravação de suas melodiosas vozes, adocicadas quanto um licor de maracujá, olhos-de-sogra, pavê, mas também salgadinhas (não ouviram falar em agridoce ?) como um naco de pastelão ou de pizza, ou talvez nem tanto, isso porque, no dizer da canção, a perfeição é uma merda, que joga na seleção. É de se notar que elas cantam como também declamam, e não reclamam de nada, nem do pescoço fora de prumo, de tanto ensaiarem – e o mais importante é que gravaram sem nenhum sotaque paulista ! Sim, é de pasmar, amigas e amigos, tanto esmero. Mais vinho.

Para finalizar, temos que fazer o devido registro da canção que abre e fecha o insígne repertório dessas duas canduras paulistanas, porque, num ato até mesmo inconsciente, saiu delas aquele espírito de cantemos coisas nossas, de raiz, da garoa e do sushi, da pizza e das padarias, e deu no que deu: “lindameubem” é o argumento com o qual elas vão te convencer, caro amigo e dileta amiga, vão te convencer de que não são duas gatas miando ou chorando baixinho, mas duas cantoras do mais alto nível paulistense, paulistano, paulistino.

Pois bem, fizeram e enviaram a um programa de tevê a gravação do seu disco demo, ou, para as más línguas, CD Demoníaco, pelo que receberam polidas palavras de incompreensão total para com a sua Arte-Maior, mas são assim mesmo as coisas, pairando sobre elas o eco de serem gênias incompreendidas. Ora, vamos e convenhamos, depois disso, para quê juízo, ouvindo essas duas belezas ?

DMC

Belo Horizonte, 15-2-07, 15:11h

*******

Eis aqui o LINK:
NAMASTÊ

foto: Darlan

Comentários

  1. Ohohoh, ganhamos destaque aqui!!
    Huahuahua!!
    Acredita que teve gente que achou que fosse sério??
    hahaha!
    Nóis tem futuro, né??
    kkkkkkkkkkkk!

    ResponderExcluir
  2. Ah, um imenso futuro no mundo da Música, e noutros, mais afins ao que há de bom neste e noutros possíveis mundos, ZANA.

    Uma dupla tipo "fenômeno", da qual não há pauta que escape. É um espanto que o Mundo ainda não as conheça; mas é pra já: todas as estrelas e a poeira das estrelas estão com vocês.

    ResponderExcluir
  3. Darlan estou emocionada que alguem tão sensível, tão profundo e provavelmente surdo tenha dito a nosso respeito hahahaha!

    No próximo ensaio você será a nossa banda de um homem só :)

    ResponderExcluir
  4. Já estou tremendo, MÁRCIA, em saber que serei algo, enfim, estarei de braços dados, e não a sós, com a fama - pelas vias da dupla estelar lá das bandas paulistanas.

    Vai ser uma arraso. Podem mandar. Garçom... mais três, no capricho !

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Bem-vindo, Bem-vinda // Welcome // Bienvenido

Postagens mais visitadas deste blog

Tu te lembras, sim... Contos da minha casa - 5 Uma avó de uma amiga minha completou noventa anos – eu disse uma avó porque, afinal, todos temos mais de duas avós -, e as cantigas de sempre logo se fizeram ouvir, devido ao fato de que não há festa de noventa anos todos os dias, todos os meses, sequer todos os anos, não é mesmo, gracinhas e joões ? Embasado nisso, e embasbacado após ver uma linda foto da festa de aniversário 90 de uma avó de uma amiga minha (ufa !), fiz de conta que era comigo, e revi a minha avó, melhor, uma de minhas avós bem aqui ao lado meu, toda liru-liru , empetacadinha, lindinha e ainda e sempre brabinha que só ela. É... falo da minha avó paterna, cuja graça era Senhorinha, isso mesmo, basbaques, este era o nome dela registrado em cartório: Senhorinha Maria de Jesus. Era baixinha, muito brava, mas só de mentirinha, assim com um ar de Dom Casmurro (parte do livro, porque as partes do livro onde entra a tal da Capitu... isso aí, podem deixar de lado,
FLORES SÉSSEIS, VIDROS E ÁGUAS: CONSTELAÇÃO DE OSSOS 1. O ENCANTAMENTO PELOS MATERIAIS Vidros e águas se entendem, agarram-se uns aos outros como um pensamento bom atrai outro de sua estirpe, como as pedrinhas de um caleidoscópio fazem umas com as outras, ou seja, abraçam-se e soltam-se num emaranhado nunca igual, mas sempre com o intuito de união, sua sina sendo a de viverem unidas, mantendo a própria identidade – o que é cada vez mais difícil, mais improvável entre os humanos. Águas e vidros: água doce e vidro plano, água salgada e vidro temperado, água suja e vidro opaco, água limpa de bica e vidro colorido  de igrejas e bordéis, sim, de tudo se faz canção e caução, e o coração na curva de um fio d’água estalando gotículas nas costas dos lagartos (agora tu sabes a razão do sorriso do lagarto, uma delas), úvula e cio, nonada , tiros que o senhor ouviu... , o rio cheio de mormaço, espelho d’água é a sensação de um rio calmo calmo calmo, tu vais com ele, entras nele

calmaria

  Uma calmaria aparente dentro da aldeia, sobre ela uma zanga de nuvens - mas não se deve levar nuvens a sério, por inconstantes - sina - e levianas feito dunas e seixos escorrendo e escorregando daqui pra lá, de lá para além-lá, feito gente nos seus melhores e piores dedos, entraves, momentos, encontros e despedidas. Um gotejo aqui e ali, mas outro tipo de gotejo num lugar da casa vai trazendo à cena o verso do português Eugênio de Andrade (Prêmio Camões 2001), decifrando a lágrima: " a breve arquitetura do choro ." Darlan M Cunha