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Ein Pakt mit dem Teufel
(und es werden immer mehr)



Mas, talvez também seja assim: o fim já ocorreu. Nós não existimos mais. Vivemos só de mentirinha, um reflexo, um estrebuchar conclusivo.
Ou talvez alguém esteja sonhando conosco. Deus ou um ente superior parecido, um supergrandalhão que nos sonha em capítulos sucessivos, porque gosta de nós ou nos acha engraçados, e que por isso não nos larga, não se farta de ver-nos estrebuchando. Nós perduramos em seus flashbacks e graças aos apetites audiovisuais de um Princípio Divino, embora a última sessão, ou ultemoch, como diz a ratazana, já tenha ocorrido há muito tempo; desaparecemos imperceptívelmente, pois - mesmo que os homens tivessem casualmente notado o fim num domingo de junho - seu comportamento e a atualidade de seus negócios, horas marcadas e promissórias, seus hábitos aprazíveis e seus terríveis imperativos não se deixaram transformar nem redimir, cancelar ou superar, de tal forma era ou é imutável a espécie humana.
GÜNTER GRASS. A Ratazana, p.361
******
Poema de Darlan

O GRITO

Quando me foi dito
que tenho um
preço
e que todos
têm um preço, não
cri, e me pus obstinadamente

a me vender.
******
imagem: FREYDOON RASSOLI (Irã)

Comentários

  1. Olá, Darlan!

    Se bem entendi..Podemos ser como no filme ´´Os Outros``....só morrendo mesmo para ver esse tal falado fim do mundo.

    Um abraço e boa semana

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  2. Isso mesmo, caro Sérgio: você abriu a gaveta. Apareça, que a casa é sua.
    Um abraço. Darlan.

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  3. Seria como assistir um vídeo ou olhar no espelho e ver a vida que a gente já viveu, lá. Num ponto seria bom, pra da próxima vez errar menos, ou tentar acertar mais. belo texto, gostei! Belo dia pra você*.*

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  4. Temos grandes teorias de não vivermos nada real, daí a fantasia , daí a linguagem, o premio a este excelente escritor e a sua poesia aqui! Isso não tem preço! hehehe Abraços!!

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  5. Jéssica, queria criatura,
    você percebeu bem o que somos: a ambigüidade, até porque tudo é dual: luz e sombra, som e silêncio... queremos irmo-nos, queremos ficar, mas a conta dos erros e acertos de cada um, ah...
    Um abraço. Darlan.

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  6. Prezado Thiago Mello,
    o Grass é um dos poucos aos quais eu chamo de grande escritor (NO BRASIL: J. G. Rosa, Machado de Assis, Autran Dourado, Raduan Nassar, Moacyr Scliar, João Cabral de Mello Neto e João Ubaldo Ribeiro - livros literários, bem entendido; por isso ficam de fora, por exemplo, Euclides da Cunha, Darcy Ribeiro, Paulo Freyre e Gilberto Freyre).
    Quanto à minha poesia, agradeço-lhe a menção a ela.
    Um abraço, caro amigo. Darlan.

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  7. Valéria,
    mal posso respirar, após uma visita tão bacana como a tua. Gostei mesmo da tua Página, e agradeço por adicionar-me como amigo. Você já tem uma cópia da casa -juntamene com todas estas pessoas que aqui estão, portanto... pode entrar. Se quiser (em) visitar outras PÁGINAS MINHAS NA WEB, os endereços estão na Guia DARLANIANA, aqui mesmo no PALIAVANA4.
    Um beijo, um abraço. Darlan.

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  8. Será que todos já passamos? O grito poderia ser por isto ? Brincadeiras á partes, gostei de tanta criatividade, nesta visão de nós; da vida.
    Abraços.

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  9. Caro Manoel,
    inúmeras vezes ouvimos esta assertiva de que todos têm um preço, e este poema sintetiza esta possibilidade, ou certeza. Notemos que, se eu trocar (e visualizei isto na hora da feitura do mesmo), a palavra "vender", por "vencer", como é que ficamos: eu, você, ela e ele, cada um, todos ?
    O poema pode mudar totalmente de figura, a não ser se sob uma leitura desatenta (que, estou certo, não é costume seu ser desatento nem ao ler nem ao escrever um texto).
    Aquele abraço, gente boa.
    Darlan.

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