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cama de faquir *  Homem deitado à maneira faquir já nem homem é, embora pareça convidar os transeuntes a vê-lo de dentro da multidão rondando feito piorra a ossada estendida na cama de pregos, feito faca só lâmina expondo seu dilema, pois o mundo tem muitas faces todas elas bem presas a limites ou a antíteses cujos degraus mensuram o esforço e a apatia; e assim há dervixes e faquires astronautas e ladrões e emires, porque a cidade é larga e vive de tributos por encomendar lutos, pelo que enquanto uma laranja escorre dos dedos da manhã a ossada, viva, continua em transe, alheia ao humo a boca do escárnio, alheio a fotos o rosto do espasmo,  ciente de que haverá cama para todos cedo ou tarde todos serão faquires e o mago parece sorrir para uma flor amenizando-lhe o rude travesseiro.   O visitante afasta-se, mensageiro. Foto e poema: Darlan M Cunha
Museu de Imagens do Inconsciente, RJ (Acervo) * Permanece inabordável e inativa na enfermaria: a palavra fracassa.[...] Dra. Maria Cristina Reis Amendoeira, psicanalista. "O trabalho da arte e construção da subjetividade no feminino". Uma abordagem sobre a pintura de Adelina Gomes (1916-84), interna do Museu de Imagens do Inconsciente. Revista Brasileira de Psicanálise  *** OBVIOUS (matéria de Patrícia Costa, sobre o Museu de Imagens do Inconsciente).
Iberê Camargo - A idiota (Fundação Iberê Camargo) * A idiota Se lhe pedem algo de seu ofício de estar sempre sob mutismo ela anui e se esmera em abrir em cada canto da boca o que lá existe de mais, embora menos apreciado pelos fortes ventos do esquecimento ou do desprezo alheio, mas franqueia o caminho com um mínimo de sons variados caso lhe peçam algo de seu ofício. poema: Darlan M Cunha pintura: Iberê Camargo
  Carlos Bracher - Paisagem com casa de Cláudio Manoel Paisagem com casas   É natural que vítimas e algozes se unam como se unem o fim  de uma estação ao início de outra feito diaristas num lençol comum. Assim, não urdindo outra coisa que não o pasmo geral na aldeia emparedada pelo lado místico do silêncio (vale ou não vale ouro a delação ?), algozes e vítimas seguem o prumo da dúvida, e certamente tais paralelas haverão de se encontrar. poema: Darlan M Cunha
Robson Barros   -  Passeando de balão                      É imenso o horizonte que acolhe o que não dá para levar a cabo: as tantas instâncias que se nos apresentam e que, por um ou mais motivos, não é possível tê-las entre os dedos, e isso é ruim, porque se somente o imaginário nos acomete sem trégua, ficamos incompletos.      Minha vizinha da casa logo à esquerda da minha era doida para passear de balão, pelo que ela então mexeu os pauzinhos, e se fez ao largo do solo: subiu, riu das figurinhas atarantadas lá embaixo, gargalhando, beijou o piloto, bebeu vinho tinto, enfim, transtornou em pura realidade um de seus fantasmas, uma de suas inquietações, o desejo inescrutável de ir pelos ares - algo naturalmente geral. Texto: Darlan M Cunha Arte naïf: Robson Barros