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Maria Sylvia Cordeiro. Menina lendo. Óleo sobre tela: 80 x 100           Um vizinho meu, escritor bissexto que, na opinião de alguns, é apenas outro que desistiu do dinamismo edificante, reside do lado sul da ponte da ponte, de onde inalamos o primeiro espanto do dia. Ele me disse que o fato de ter escrito sobre um assunto inusitado - romance de órfão -, segundo ele, o faz manter-se mais a postos devido a que o livro trata da história de um natimorto, do qual naturalmente ele sabe tanto quanto o resto da comunidade, ou seja: não sabe nada; mas mesmo assim foi capaz de inventar dados sobre este alguém, ele diz, sempre satírico quando o assunto é sociedade, até porque não há como fugir do sol, segundo sua cartilha ou evangelho. Texto: Darlan M Cunha
Carlos Drummond de Andrade (farmacêutico) e Pedro Nava (médico) Do que se tem, ao que se almeja Não te metas assim contra a força de nenhum santo, não te desregres   pelas entranhas disso e daquilo,  mesmo que sobre ti as regras do jogo ponham nome ou sintoma não previsto. Eis que a simpatia para o santo esfrega na cara dele perdas e danos, ida sem volta pela estrada - surda às batidas de novo querer -, cabendo ali ainda e sempre  o nó dos soluços, o pó das soluções. Foto e poema: Darlan M Cunha
SOM ANDINO          O maestro disse para não subestimar o poder da música, que não há mesmo como fugir de seu enleio, embora haja quem a ela seja indiferente, sim, há muitos doentes graves e até irreversíveis em todo o mundo. Nem mesmo no meio do inferno constante de oitenta decibéis, do calor natural, e do das máquinas, nem mesmo sob o fluxo da mãe da sociedade moderna, que é a pressa, escapa-se de parar um pouco para ouvir alguém numa das mil esquinas do inferno, e talvez com isso se sentir ainda vivo, ainda não de todo na lama, alguém prestável, e ainda não imprestável. Foto e texto: Darlan M Cunha
     Ainda hoje ele diz não ter cometido o ato do qual muitos o acusam, não todos, e assim ele se agarra ao que rediz, certo de que nenhum morador de vereda, sertão, caatinga, restinga, istmo, ilha, pântano ou floresta, ou da metodologia urbana, sujeita a vidro-cegueira, asfalto-surdez e concreto, poderá provar ter praticado o ato que o colocou em evidência judicial, que o colocou no escuro, no ostracismo (palavra antiga exalando conceito sempre revigorado essa palavra é). Há quem veja e ouça o que inexiste, e faz com que acreditem nisso outras pessoas; mas que tipo de crime pode ou não pode, deve ou não deve cometer uma criatura que maneja um livro, que entra e/ou sai pela boca de sua ótica, do conceito de vida que ali naquelas páginas está ? O que pode gente que lê, senão identificar certas poeiras, micoses, razias, a letargia de certos psiquismos, e assim evitá-las ? Basta? Texto: Darlan M Cunha Arte: Brigadefoice , para o Jornal Rascunho.

bala com bala

Bala Com Bala João Bosco A sala cala e o jornal prepara quem está na sala Com pipoca e com bala e o urubu sai voando, manso O tempo corre e o suor escorre, vem alguém de porre Há um corre-corre, e o mocinho chegando, dando. Eu esqueço sempre nesta hora (linda, loura) Minha velha fuga em todo impasse; Eu esqueço sempre nesta hora (linda loura) Quanto me custa dar a outra face. O tapa estala no balacobaco e é bala com bala E fala com fala e o galã se espalhando, dando. No rala-rala quando acaba a bala é faca com faca É rapa com rapa e eu me realizando, bambo. Quando a luz acende é uma tristeza (trapo, presa), Minha coragem muda em cansaço. Toda fita em série que se preza (dizem, reza) Acaba sempre no melhor pedaço. ***** Arte e foto: KAMEL YAHIAOUI
Sem ruínas não se vive ? Para Don Quixote, e para muitas outras pessoas, parece que não há como se livrarem de escombros, dos moinhos sempre prontos a triturar os melhores grãos da humanidade, levados de roldão junto com o joio, descartados no dia-a-dia. Texto: Darlan M Cunha Arte: Alves (Folha de São Paulo, maio 2013)