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     Ainda hoje ele diz não ter cometido o ato do qual muitos o acusam, não todos, e assim ele se agarra ao que rediz, certo de que nenhum morador de vereda, sertão, caatinga, restinga, istmo, ilha, pântano ou floresta, ou da metodologia urbana, sujeita a vidro-cegueira, asfalto-surdez e concreto, poderá provar ter praticado o ato que o colocou em evidência judicial, que o colocou no escuro, no ostracismo (palavra antiga exalando conceito sempre revigorado essa palavra é). Há quem veja e ouça o que inexiste, e faz com que acreditem nisso outras pessoas; mas que tipo de crime pode ou não pode, deve ou não deve cometer uma criatura que maneja um livro, que entra e/ou sai pela boca de sua ótica, do conceito de vida que ali naquelas páginas está ? O que pode gente que lê, senão identificar certas poeiras, micoses, razias, a letargia de certos psiquismos, e assim evitá-las ? Basta?

Texto: Darlan M Cunha
Arte: Brigadefoice, para o Jornal Rascunho.

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