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Altera comigo o palpável e o inimaginágel.








Contos da minha casa - 9

Acabou-se o dia, e mal foi percebido, ficando para trás outro compromisso. Mas existe algo mais urgente do que a Morte ? mais exigente do que a Vida ? Em que tipo de pasmo diário ou cegueira se metem homens e mulheres ?

No chão da casa há um rastro do qual não se livra quem nela entra ou sai; um rastro silencioso e cheio de detalhes, rico em coloração e pródigo em curvas, sendo que um olhar mais atento a ele pode nos levar a imaginar o não-visto e a sentir o não-possuído, até porque é no chão que a gente deve estar - embora nem sempre, porque flutuar faz parte obrigatória da existência sadia, não-patológica.

Dizendo isso, a visita vê uma tela na qual um rosto de palhaço esmiuça as pessoas; um rosto multicor, com uma lágrima e um muxoxo dignos da melhor literatura, que um dos irmãos deixou como um legado de sua visão do mundo que ele vivenciara, até morrer afogado numa praia capixaba. Lá fora, um bem-te-vi acontece, gente apressa-se para pegar o ônibus, o dia, a vida, e o assombro novamente se ergue nas ruas do mundo, sempre igual em Istambul e Nairóbi, Goa e Reiquiavique, Quixeramobim e San Isidro.

DMC
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Igreja da Pampulha - TICO, artista mineiro (Hebert Dias de Oliveira - 43)

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alto & baixo

Barreiro - BELO HORIZONTE, MG * Todos fogem, querem mudança em sua mesmice, novos degraus com textos e tetos, de um modo ou de outro, sentem que a vida é minuto, frutas murcham depressa, animais logo estão cada vez mais sisudos e mal-humorados, e assim chegam às monstrópoles, às suicidades. * Darlan M Cunha  

calmaria

  Uma calmaria aparente dentro da aldeia, sobre ela uma zanga de nuvens - mas não se deve levar nuvens a sério, por inconstantes - sina - e levianas feito dunas e seixos escorrendo e escorregando daqui pra lá, de lá para além-lá, feito gente nos seus melhores e piores dedos, entraves, momentos, encontros e despedidas. Um gotejo aqui e ali, mas outro tipo de gotejo num lugar da casa vai trazendo à cena o verso do português Eugênio de Andrade (Prêmio Camões 2001), decifrando a lágrima: " a breve arquitetura do choro ." Darlan M Cunha
  TREM DOIDO DE BOM     Lembrei-me, neste instante, de um termo jocoso, bem capiau, daqueles que deixam o cabra assim meio na dúvida, ou seja, se está sendo gozado, ou não, porque é mesmo engraçado, simplório. - "O senhor tem canivete aí, do tipo de folha larga, assim de um dedo de largura, bom pra picar fumo, e outras coisas ?" - "Bão, tê, tem, mais já acabô. Mais iêu vô di pudê incumendá pro Snhô Voismicê lá na capitá Béózônti, qui daqui trêis día, sem saculejo di atrazo, já tá aqui incima du barcão, prontim pra Vossa Sinhuria fazê uso do bichão, qui é mêrmo muito bão." - "Pois o senhor me faça o favor de pedir um para mim, de preferência com cabo de madrepérola, mas se não tiver, que seja de cabo de osso." - "Será feito, patrão. Agradicido."   _  Darlan M Cunha