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Mostrando postagens com o rótulo poema
  Tikashi Fukushima - Montanha, 1992 Montanha Pegar de leve nas mãos da montanha, coçar-lhe a nuca e os pés, até que as queixas mais breves desapareçam  em meio ao que as nuvens (sempre imprevisíveis) despejem ou não sobre ela e sobre os que abaixo dela choram por não terem colhido os frutos da estação. Poema: Darlan M Cunha
    Afonso Almeida - pintor naïf. Bahia, Brasil. Pedras & atabaques Daqui até ali é uma instância de luz única, mas nada se compara  à pedra em sua tristeza de matéria polida para a sanha de um dedo. Lá vai a pedra, sem reino, ânsia de sobrevida, mesmo num balcão de penhores, também ele polido. Lá vai, embrulhada em remorsos e vergonha, a senhora, dores pela pedra penhorada. Pelo sim pelo não, distâncias desconhecidas há neste mundo de pedras e pão enquanto couros são esticados e atabaques infletem sobre o areal que um dia foi pedra nua, pedra que foi atabaque  de tiranossauros e hoje vestígio do que o tempo insinua. Texto: Darlan M Cunha Arte: Afonso Almeida - pintor naïf, BA, Brasil
  O BUDA SENTADO O buda sentado não carecia de jogos de azar, mas revirava a memória rumo à rota da seda, bebendo algo indecifrável, o iluminado olhava de soslaio a quem ousasse o que não ousava: cometer desatinos, matando mulheres e filhas (mulheres valiam pouco já àquela época), não, ele não saía de si a não ser para comer maçãs e praticar a lavoura arcaica de beber um copo de cólera antes de libidinagens com vacas e ovelhas, saltando cercas esse pai de profetas e de outros menos virulentos e menos votados,  sabendo que a sinistra e a destra costumam estranhar-se, pelo que as imergia  no lodo, sempre atento ao silêncio das possíveis presas, sim, era notório que o buda sentado já não se bastava a si mesmo, e as más e as boas línguas atestando que a sua fisionomia denotava anseios bem visíveis em cada folha sobre a qual estendia a mão com a qual proferia novas e antigas admoestações ao vício, esquecido do próprio vício de ent
Carlos Drummond de Andrade (farmacêutico) e Pedro Nava (médico) Do que se tem, ao que se almeja Não te metas assim contra a força de nenhum santo, não te desregres   pelas entranhas disso e daquilo,  mesmo que sobre ti as regras do jogo ponham nome ou sintoma não previsto. Eis que a simpatia para o santo esfrega na cara dele perdas e danos, ida sem volta pela estrada - surda às batidas de novo querer -, cabendo ali ainda e sempre  o nó dos soluços, o pó das soluções. Foto e poema: Darlan M Cunha
  IMOTION : A esfera e os cubos SE MARÇO COUBER Se março couber na cesta de desejos, quero jogar peteca no céu, e rolar de patins no inferno, sem esquecer que, entre jamones y churros, um balconista lá na España disse que la vida es mi ilusión , pelo que então penso fazer deste mês não apenas a ilusão de trinta e um dias, mas uma antena para que, quando abril chegar, rastros do que fui em março sejam encontrados não em gavetas, e sim na garganta do próprio abril. Se março for homem e mulher o bastante para a minha cesta de desejos, espero gastar sua luz nas dúvidas que eu trouxe de fevereiro, gastando-a em novas tempestades e em furnas tão díspares quanto o purgatório da comédia, é vero, se março puder sobreviver a ele mesmo, e a mim, cabaças irão rolar neste quintal de puro destemor ao que quer que seja - a não ser ao avanço da cal. Mas se março se comportar de acordo com o que esperam dele os conformados, as vis, melhor para