Pular para o conteúdo principal
Tomie Ohtake  - Influxo das formas



Quando a boca se cala
ninguém pode ir em seu
socorro, dementes todos
diante da boca sem fala.

Eis a boca no seu turno
de silêncio, com ou sem
anuência geral, filtrou
o impossível, bem ou mal

nos reptos da rua, pilhou
pares em pleno fel, foi  
lua e limpou o rés do chão
de alheia festa, que a boca

é isso: se se gaba demais
é indigesta; se não diz nada
cai no esquecimento, dando 
de compor para a ausência

(sentida por alguns, talvez)
uma vírgula ou petição;
enfim, o mais que perfeito 
chiaroscuro de sua intenção.



poema: Darlan M Cunha
Imagem: https://br.images.search.yahoo.com/search/images;_ylt=A0LEV2qs.khUL.oAF4_z6Qt.;_ylu=X3oDMTB1MGJ1ODhjBHNlYwNzYwRjb2xvA2JmMQR2dGlkA01TWUJSMDNfMQ--?_adv_prop=image&fr=mcafee&va=tomie+ohtake





Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Tu te lembras, sim... Contos da minha casa - 5 Uma avó de uma amiga minha completou noventa anos – eu disse uma avó porque, afinal, todos temos mais de duas avós -, e as cantigas de sempre logo se fizeram ouvir, devido ao fato de que não há festa de noventa anos todos os dias, todos os meses, sequer todos os anos, não é mesmo, gracinhas e joões ? Embasado nisso, e embasbacado após ver uma linda foto da festa de aniversário 90 de uma avó de uma amiga minha (ufa !), fiz de conta que era comigo, e revi a minha avó, melhor, uma de minhas avós bem aqui ao lado meu, toda liru-liru , empetacadinha, lindinha e ainda e sempre brabinha que só ela. É... falo da minha avó paterna, cuja graça era Senhorinha, isso mesmo, basbaques, este era o nome dela registrado em cartório: Senhorinha Maria de Jesus. Era baixinha, muito brava, mas só de mentirinha, assim com um ar de Dom Casmurro (parte do livro, porque as partes do livro onde entra a tal da Capitu... isso aí, podem deixar de lado,
FLORES SÉSSEIS, VIDROS E ÁGUAS: CONSTELAÇÃO DE OSSOS 1. O ENCANTAMENTO PELOS MATERIAIS Vidros e águas se entendem, agarram-se uns aos outros como um pensamento bom atrai outro de sua estirpe, como as pedrinhas de um caleidoscópio fazem umas com as outras, ou seja, abraçam-se e soltam-se num emaranhado nunca igual, mas sempre com o intuito de união, sua sina sendo a de viverem unidas, mantendo a própria identidade – o que é cada vez mais difícil, mais improvável entre os humanos. Águas e vidros: água doce e vidro plano, água salgada e vidro temperado, água suja e vidro opaco, água limpa de bica e vidro colorido  de igrejas e bordéis, sim, de tudo se faz canção e caução, e o coração na curva de um fio d’água estalando gotículas nas costas dos lagartos (agora tu sabes a razão do sorriso do lagarto, uma delas), úvula e cio, nonada , tiros que o senhor ouviu... , o rio cheio de mormaço, espelho d’água é a sensação de um rio calmo calmo calmo, tu vais com ele, entras nele

calmaria

  Uma calmaria aparente dentro da aldeia, sobre ela uma zanga de nuvens - mas não se deve levar nuvens a sério, por inconstantes - sina - e levianas feito dunas e seixos escorrendo e escorregando daqui pra lá, de lá para além-lá, feito gente nos seus melhores e piores dedos, entraves, momentos, encontros e despedidas. Um gotejo aqui e ali, mas outro tipo de gotejo num lugar da casa vai trazendo à cena o verso do português Eugênio de Andrade (Prêmio Camões 2001), decifrando a lágrima: " a breve arquitetura do choro ." Darlan M Cunha