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Tomie Ohtake  - Influxo das formas



Quando a boca se cala
ninguém pode ir em seu
socorro, dementes todos
diante da boca sem fala.

Eis a boca no seu turno
de silêncio, com ou sem
anuência geral, filtrou
o impossível, bem ou mal

nos reptos da rua, pilhou
pares em pleno fel, foi  
lua e limpou o rés do chão
de alheia festa, que a boca

é isso: se se gaba demais
é indigesta; se não diz nada
cai no esquecimento, dando 
de compor para a ausência

(sentida por alguns, talvez)
uma vírgula ou petição;
enfim, o mais que perfeito 
chiaroscuro de sua intenção.



poema: Darlan M Cunha
Imagem: https://br.images.search.yahoo.com/search/images;_ylt=A0LEV2qs.khUL.oAF4_z6Qt.;_ylu=X3oDMTB1MGJ1ODhjBHNlYwNzYwRjb2xvA2JmMQR2dGlkA01TWUJSMDNfMQ--?_adv_prop=image&fr=mcafee&va=tomie+ohtake





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