Anniversary of great portuguese singer Eugénia Melo e Castro. Happy Birthday.
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ECOS
Emissária de um rei tu não és, senão de ti mesma, sobre nós incidindo
com raios de fome e sede com os quais nos mantemos lúcidos
a ouvir-te passarinhar sobre os descalabros do mundo - em ré menor
e em sol sustenido maior... sim, e não te ponhas assim
em desespero neste lugar sem data nem nome, lugar que talvez se chame
beco de tiso ou beco do mota.
Tenção de amar está no ar a totalidade da nossa ânsia
por ti, mas canta para nós uma vez mais
antes de ires a outros mares e palcos e palanques, estrados e estradas. Vê:
longe é perto, perto é distante demais
embora a garra dos mortais nos diga sempre algo forte, de olho por olho
e dente, e a minha geladeira não tem tranca, minha boca também não
e nem se ilude com as ferramentas do puro prazer num charuto
ou num par de cílios trazidos do norte, rubros
nacos de riso esperamos de ti, sim e não...
melhor cantar sem considerar que o que está irresolvido é definitivo.
Sabem-te os números, sabem que o teu dia e a tua noite se fundem na
terra de mel, meles, melaço sem mea-culpa de melodrama.
Emissária de uma grei seleta tu és para nós o sumo da indolência, o grão
mais vivo da sega musical, ó mulher doidivanas, ó criatura do Todo
(em Todos Os Nomes estás, carimbando liberdades)
Diga aos perversos e obtusos, diga-lhes que logo lhes mostrará a tua coleção
de andorinhas e flores, pontes e amigos (pontes), gatos e borboletas,
a tua coleção de setenta e seis
fonemas encantados (por ora), diga-lhes acerca da tua ingenuidade
sagaz (és de Sagres ou do Minho ? és Algarvia, garota de Trás-os-Montes ?)
Emissária de uma lei tu és
marginal ao que não nos tolera e nos priva de ouvir-te, mas cá estamos
para brigar pelo direito nosso de bisar-te, ó mãe da juventude
retendo de todos e para todos
uma visão do mundo nunca gasta por demais, porque um espanto sobe
na tua garganta e se despeja sobre a cabeça das gentes
na platéia assentadas com as minúcias de suas recordações, ouvindo-te
enquanto a tua verve semeias, e nós, os comedores de batatas,
sabemos que continuaremos a amar o terno sabor
do sal nos lábios de quem imaginamos, e nos darás parte
do que te dá esperanças.
A mim, que vivo além-lá da injúria, dá-me a boca para conhecer
o que está na minha rede ali ao canto da sala estendida, vaga, para hoje e
para quando o meu bem-querer me ouvir, sei que
com duetos foste construindo e desconstruindo
mais que placebos, mais do que simples psicodinâmica, mais do que o vinho
para um concerto na escadaria da cidade no interior
de cada um, ó, tu és boa e má, ingênua maldade salta de ti, feito uma
cândida erêndida (mas, onde está ‘la abuela’ desalmada ?)
e um luar desesperado já se pressente sobre o mármore
do mar, num bar qualquer alguém resolve que o mundo é bom, e canta modinha,
bebendo o fado exemplar de uma nova bossa e do choro, sim,
lembro-me do verso terrível, tu nos lembra
ó dentição do inenarrável, o terrível verso maravilhoso acerca
da lágrima: “a breve arquitetura do choro”.
Tua canção nos faz chorar - leves e breves e encorajados como nunca.
Para EUGÉNIA MELO E CASTRO (PORTUGAL / BRASIL), no seu aniversário.
DARLAN M CUNHA
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