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Contos da minha casa - 6

É mais do que triste o fato de alguém visitar a mãe e ela já não ser, de certo modo, aquela que se conhece, se ela já não fala nada, entranhada num mundo não entendido, nunca alcançado pela neurologia, pela psicanálise e, muito menos, por religião nenhuma. Assim é o ‘mundo Alzheimer’.

É mais do que trágico haver gente que tem a cor da tristeza estampada, há pessoas incapazes de sofrer, de morrer com calma, ou sozinhas, pessoas de todo tipo, incapazes ou não

de amar o comum, de desamar o comum, e tu pensas em todas estas coisas e noutras também, enquanto vais à casa da tua mãe (tu moras longe, sempre longe, cada vez mais longe da mãe, quando não de ti mesmo, ou de ti mesma), e a tua mãe está inválida, requer extremos cuidados

extrema paixão de quem a rodeia, a tua mãe vive com o pulso dos que ardem tão de leve que não há como saber se viva ou morta está, e tu então vês pela primeira vez como é tão precário o existir, o quão tíbios somos, percebes que a fortaleza que era a tua mais amada das pessoas

já não consegue banhar-se nem alimentar-se sozinha, necessita de quem a livre das roupas eventualmente sujas de comida ou de fezes, sim, a vida é breve e triste para muitíssimas criaturas around the world...

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foto:~fb~, no FLICKR

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alto & baixo

Barreiro - BELO HORIZONTE, MG * Todos fogem, querem mudança em sua mesmice, novos degraus com textos e tetos, de um modo ou de outro, sentem que a vida é minuto, frutas murcham depressa, animais logo estão cada vez mais sisudos e mal-humorados, e assim chegam às monstrópoles, às suicidades. * Darlan M Cunha  

calmaria

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