
O OLHAR DA LIBÉLULA
Todos saíram. O silêncio ouve-se, vibra como um eco final, talvez não seja mais que o bater distante das ondas nos penhascos, é sempre a melhor explicação, até dentro dos búzios a lembrança interminável das vagas ressoa, porém não é este o caso, aqui o que se ouve é o silêncio, ninguém deveria morrer anes de conhecê-lo, o silêncio, ouviste-o, podes ir, já sabes como é.
JOSÉ SARAMAGO. A Jangada de Pedra.
***
FACA DE ENE GUMES
Seus próprios poros olhando
de soslaio, de dentro para mais dentro,
como se desconfiados do salário imposto
pela vida, pelos descontos nunca a contento,
seus olhos na pele do dia subindo e descendo
muros, o dia: salteador, amante funesto, mãe
e pai de jejuns e farturas, e então começou
a se perguntar se a realidade de alguém
imita ou limita os seus sonhos, se é capaz
de juntar-se a outra das inúmeras metades
soltas no mundo, sem que isso lhe custe
os olhos de ver, as mãos de pegar,
o coração de onde partir para a sabedoria
de alguma renúncia total.
dmc
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Construção T téia (fios metálicos): Lygia Pape
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