O mesmo de ontem, mas diferente.
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1.
O que há de desnaturado no verbo somar, ainda que ao somar ele carregue consigo o verbo subtrair ? Ora, isto é natural, sempre foi, é e será. Alguém sempre perde algo no jogo: cesto, tijolo, bicicleta, a casa). Ó, quanto há de sombrio em certos sorrisos e certos apertos de mão ? Isto só se sabe depois que o rastilho de pólvora chega ao fim.
2.
Dominus vobiscum. Um dia - já era madrugada - eu e o amigo e vizinho voltávamos da balada, quando de repente Deus saltou à nossa frente e, sem sequer me notar, pregou-nos o óbvio, qual seja, um tenebroso, melancólico e enjoativo sermão, pelo que nos fizemos de desentendidos, deixando-o estático no passeio público. O sermão durou uma eternidade. Nem sei onde ele dormiu - talvez no hotel central ou na pensão da Dona Cacilda, os únicos lugares para isto nesta aldeia.
3.
Na sexta-feira santa do ano passado, eu e o meu amigo e vizinho estávamos em casa, bebendo umas e outras, churrasco, casos, impostos, além de referências sobre barragens de água e de rejeitos de minérios, livros lidos e não lidos, viagens ["viajar é mais"], família, porque não nos apetece a choradeira e a rezação de toda uma semana tida como santa - e nós pecando. Pois bem, de repente, o próprio Belzebu, sem nenhuma cerimônia, sentou-se ao nosso lado, serviu-se de cachaça e lascas de churrasco, bebeu cerveja, e só então nos cumprimentou... e estamos de conversa até hoje. Bom rapaz.
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Foto e texto: DARLAN M CUNHA
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