Nem sempre só silêncio ou ausência, só o que existe. Contos da minha casa - 2 ALGUM LUGAR ONDE Uma cortina ali não lhe faria bem, por não lhe dar senão trabalho de manutenção e pouca garantia de privacidade, uma vez que o que mais o incomodava naquele cômodo eram os decibéis vindos da rua, esta herança perversa, doentia, dos tempos coevos, sendo que a sua pessoa era particularmente sensível ao barulho, irritando-se com facildade, ciente de que aquilo é caminho líquido e certo para se adoecer dos nervos, deixando-os em pandarecos. Não, não poria cortina ali, preferindo ficar com algum brilho maior sobre as duas telas instaladas no ambiente que lhe servia de local de estudo e de descanso. De lá, vigiava o mundo, espirrava na fera ondas de sarcasmo e riso, esfregando os pés sempre descalços, beliscando ou bebendo algo mais sucinto do que uma tempestade em copo d'água, um sonrisal, etc. Num dia qualquer, notou estranhos sobrevôos cheios de incógnitas banhando-lhe a fal...